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'O Homem dos Sonhos': Nicolas Cage brilha em dramédia sobre sonhos e cultura do cancelamento | 2023

NOTA 8.0

Por Marcello Azolino @pilulasdecinema 


Existem duas categorias de atuações que o ator Nicolas Cage consegue acessar em sua carreira: seus papéis canastrões presentes na maioria das produções em que se envolve, bem como suas entregas absolutamente geniais como um ator de mão-cheia em obras como 'Adaptação' (2002), 'Pig' (2021) e a produção que lhe rendeu um Oscar de melhor ator, em 1996, por 'Despedida em Las Vegas'.

Desta vez, Cage acerta ao escolher embarcar em uma premissa absurda, mas definitivamente criativa.  Nic Cage interpeta o professor de Biologia Paul Matthews, pai de família de classe media alta, com duas filhas jovens e uma mulher dedicada interpretada pela expressiva atriz Julianne Nicholson. No entanto, a situação da família começa a se desestabilizar quando Paul passa a sofrer um fenômeno inexplicável ao simplesmente invadir os sonhos de milhões de pessoas. Enquanto pessoas sonham ou têm pesadelos com situações aflitivas, Paul sempre aparece de forma casual e aleatoriamente nas historias. O que começa como um acontecimento bizarro, sai do controle quando ele passa a ser assediado por marcas como a Sprite (em um merchandising estrategicamente utilizado no enredo) que quer se vincular a influência dele de entrar na cabeça das pessoas involuntariamente para vender a bebida. Há ainda o peso de se tornar uma pessoa pública e ser assediado em todos os locais públicos em que se encontra .

Até metade do filme, o diretor e roteirista noruegues Kristoffer Borgli reserva um tom dramático para a narrativa, porém sempre com situações e diálogos desconfortavelmente cômicos que levam a risadas involuntárias. A partir de um momento especifico em que a personagem de Cage muda de atitude nos sonhos e passa a atacar agressivamente as pessoas, ai a obra adota outro tom e mergulha no calvário da cultura do cancelamento. O mood perturbador com cenas violentas e a decadência pessoal que o professor Matthews passa a experenciar, tornam a atuação de Cage ainda mais complexa e cheia de camadas, fator que é potencializado pela maquiagem e prótese que o ator utiliza para deixar o professor asqueroso.

'O Homem dos Sonhos' flerta bastante com obras como 'Quero ser John Malkovich' (1999) e o próprio 'Adaptação' estrelado por Cage, pois sabe se aproveitar de um fio narrativo nonsense para explorar situações cada vez mais criativas e absurdas com humor inteligente e rasteiro. Ao final amargo, ao som de City of Dreams dos Talking Heads, fica aquela sensação de termos assistido a uma pequena pérola com pinta de cult e com roteiro daqueles que você não vê usualmente serem produzidos. No caso, esse aqui é curiosamente produzido pelo polêmico Ari Aster, o diretor de 'Hereditario' (2018) e  'Midsommar' (2019).







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