Adsense Cabeçalho

'For Sama' : Documentário indicado ao Oscar vai do horror à doçura com maestria | 2020

NOTA 9.0

Por Rogério Machado 

Crianças brincam em uma rua devastada por ataques russos. Entre as brincadeiras, a atividade de pintar em diversas cores um ônibus que havia sido bombardeado por um desses ataques. Infelizmente o contato de todas aquelas crianças com a guerra não se resumiam somente àquela atividade lúdica. 'For Sama' , no original, que esteve entre os candidatos à Melhor Documentário no Oscar esse ano, é um duro relato de uma mãe que anseia em proteger sua filha de todo aquele pesadelo interminável. 


Ao longo de cinco anos, da Primavera Árabe à destruição generalizada da região, a cineasta Waad  al-Katead liga a câmera para contar sua história. Estudante de marketing na Universidade de Alepo, a jovem mulher registra a insurreição popular contra o ditador Bashar al-Assad. Quando a violenta repressão se abate sobre o povo, com reforço do poderio militar russo, Waad permanece em Alepo. Apaixona-se pelo médico Hamza, um dos poucos médicos que ficaram na cidade após os primeiros bombardeios. Sem planejar, os dois geram Sama, bebê nascido no epicentro de um conflito que não escolhe vítimas. Pelo contrário: inocentes morrem aos montes. Nem doentes, crianças e idosos são poupados.

Hamza, junto com outros voluntários, optam por uma resistência diferente: montam um pequeno hospital com poucos recursos, mas que atendiam adultos e principalmente crianças, vítimas diárias dos bombardeios; um lugar onde teoricamente não poderia sofrer ataques. São as sequências feitas por Waad no hospital que haverão de testar os ânimos e porque não dizer a coragem do espectador em prosseguir com a sessão. A cineasta não poupa a audiência de cenas pesadas: crianças mortas, mães e familiares se lamentando e até a dura cena de uma mulher grávida atingida por uma explosão e que precisa ter o parto feito às pressas. O documentário não faz concessões e apresenta uma narrativa crua, apesar dos não raros momentos de ternura. A chance do espectador de tomar fôlego e se recuperar de todos os relatos e trechos ásperos durante a exibição também se deve ao indiscutível acerto de contar a história num formato não linear - recurso pouco usado no gênero. 

'Me arrependi de te trazer ao mundo, você não pediu para estar aqui'... Essa e tantas outras declarações e frases são oferecidas à pequena Sama ao longo da projeção como se fosse um diário em tela para que a menina pudesse mais tarde ver e se entender como pessoa, e claro, tentar entender o que se passou com sua gente - quem sabe, no futuro, não será ela a dar continuidade à luta por um lugar melhor - assim como fizeram seus pais, pessoas que são escolhidas para fazer diferença onde Deus, ou Alá, enfim,  as plantam. 

'Para Sama' (provável título em português), é paradoxalmente uma declaração de amor e um ato de denúncia. É uma narrativa terrível e estranhamente reconfortante sobre a guerra. 

Super Vale Ver !



Nenhum comentário