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Em "O Jovem Ahmed" a inocência adolescente é aliciada pelo fanatismo religioso | 2020

NOTA 8.5

Por Rafael Yonamine @cinemacrica

Acompanhado da inconfundível certeza do estar certo, o adolescente Ahmed ensaia os primeiros passos no caminho da religião. Diferentemente da postura passiva de doutrinações que recaem sobre o indivíduo em processos mecânicos, tais como a transmissão familiar de crenças ou o simples aculturamento resultante do contágio pelo meio, o personagem central do longa é quem representa a entidade geradora de interesse. O espaço para a ponderação é reduzido pelo enorme apetite em se aprofundar no islamismo e ser um fiel de conduta irrepreensível. Entretanto, o possível arco poético que liga o interesse à paixão religiosa é estendido ao campo da cegueira dogmática, introduzindo Ahmed ao radicalismo.


Nas mãos de Jean-Pierre e Luc Dardenne, mais uma vez a instabilidade jovial é retratada de forma notável. A adolescência não é um pretexto barato em que se apoia a maior suscetibilidade à adesão ao fanatismo islâmico. A dupla de diretores esquiva-se dessa perspectiva cômoda e ocupa-se em dar volume à tragédia resultante da obsessão que relega a razão em diversas circunstâncias. É doloroso ver como essas motivações conduzem o protagonista a adotar posturas hostis com a própria mãe.

O conflito central, contudo, reside na relação de repúdio de Ahmed com a professora. Seguindo interpretações literais, por vezes extrapolada do alcorão e, em grande parte incentivado pelo seu orientador religioso, o adolescente segue uma lógica binária de discernimento: se há aderência aos seus preceitos, tem-se respeito; se há conflito, aflora o ódio. Outro mérito da obra é o trabalho sensível em humanizar a postura categórica num adolescente. A pretensão do protagonista em preservar uma entidade inabalável é habilmente fragilizada pela inerente pouca vivência. Desse modo, a narrativa amplia as vítimas para além da família e conhecidos, pois o próprio pivô da desarmonia transparece um conjunto de sentimentos que transita entre a inocência e a insegurança.

Vale Ver !


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