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PiTacO do PapO - ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’ | 2018

NOTA 8.5

Um festival de previsibilidade

Por Vinícius Martins @cinemarcante



Olhando de longe, ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’ parece ser um conto de H. P. Lovecraft com a pegada aventuresca de H. G. Wells. Olhando de perto, o filme de Juan Antonio Bayona confirma o que parecia ser de longe. Há uma mescla entre as aventuras de Wells, com a veia puxada na ficção-científica (‘Guerra dos Mundos’, por exemplo), e os contos macabros repletos de horror contemplativo que Lovecraft adorava escrever.

Cenas tensas não faltam nesse novo filme jurássico, e cada uma delas se mostra minuciosamente calculada. Há um plano sequência extremamente claustrofóbico na cena em que a girosfera cai do penhasco direto no mar, onde Bayona situa seus espectadores no pequeno espaço que está se inundando cada vez mais a cada segundo, posicionando a câmera com uma frieza sombria é apavorante de modo a colocar seu público junto com Franklin (Justice Smith) e Claire (Bryce Dallas Howard) enquanto Owen (Chris Pratt) tenta desesperadamente arrumar um jeito de quebrar o vidro grosso.


O modo como o suspense é filmado a fim de provocar o terror lembra em muito os estilos de James Wan e Alfred Hitchcock, que acompanham calmamente a ameaça enquanto ela se esgueira na preparação para o ataque às suas vítimas, muitas vezes pegando a elas e ao público no susto. O roteiro de Derek Connoly e Colin Trevorrow, que dirigiu o primeiro filme dessa nova safra lançada em 2015, se faz ágil e evita se prolongar em explicações óbvias, o que é um ponto demasiado positivo para a narrativa e o timing do filme. No entanto, a produção é falha em alguns aspectos que não podem, infelizmente, serem ignorados.

Primeiro ponto:
Seis meses antes da estreia de ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’, publicamos um artigo questionando se o primeiro trailer não teria mostrado demais (leia o artigo clicando aqui). Depois disso veio o segundo trailer, e depois o trailer do mercado asiático, e os spots de TV, e um após o outro foram apresentando momentos cruciais da ação da trama. Um erro lamentável, devo dizer. As melhores coisas do filme foram apresentadas antecipadamente nesses trailers, que foram uma tremenda bola fora da equipe de marketing da Universal Studios na campanha de divulgação desse longa. 

Segundo ponto:
Em consequência do primeiro ponto, não resta nenhuma cena que surpreenda de fato ao público e crie arrepios nos fãs como fez o filme anterior. E como se não bastasse a ausência de uma cena em que os espectadores gritassem um volumoso “uau!”, a trama se faz bastante previsível dentro de si mesma, independente dos trailers que mostraram a ação inteira fora de ordem. É fácil antecipar a morte de um personagem ou a chegada de um dinossauro “amigo”, já que a produção insiste em querer tornar a velociraptor Blue e a magnífica T-Rex em dois Deus Ex-Machina.

Terceiro ponto:
J. A. Bayona é um diretor de assinatura. Compareci à estreia de ‘O Impossível’ em dezembro de 2012 e também à estreia de ‘Sete Minutos Depois da Meia-noite’, em janeiro de 2017, e nesses dois filmes percebe-se o tato de Bayona para o drama e os relacionamentos humanos. Em ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’, talvez por interferência demais por parte dos produtores, essa característica tão marcante de Bayona, que interfere inclusive em sua maneira de filmar a ação, acabou ficando perdida. De certo modo, é como assistir a um filme do Tarantino sem violência e sangue para todos os lados.


Entretanto, o filme consegue excitar em seus momentos de pico e em sua proposta de dar continuidade aos acontecimentos terríveis na ilha Nublar. Curiosamente, a ilha Sorna foi citada nesse filme, fazendo uma ligação direta com ‘O Mundo Perdido’, filme de 1997 que é a sequência de ‘Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros’, de 1993, ambos dirigidos por Steven Spielberg. Já que “falamos no diabo”, a sequência que ‘Reino Ameaçado’ é, evita os erros de ‘O Mundo Perdido’ em querer colocar excessos megalomaníacos na tela; tanto é que a maior parte do segundo e do terceiro ato se passam dentro de uma mansão repleta de passagens secretas e maneiras diferentes de morrer (outra coisa típica de filmes de terror).

Com um senso de humor levemente desequilibrado e com potencial para levantar questões morais em debates calorosos, o longa acaba entregando também algumas pequenas homenagens ao primeiro filme, lançado 25 anos atrás, que provavelmente só os fãs mais intensos reconhecerão como referências. Cenas como a da cozinha, no final de ‘Jurassic Park’, são reprisadas aqui de maneiras sutilmente diferentes, fazendo despertar aquele gostinho saboroso de nostalgia sem precisar apelar para a ignorância. O olhar penetrante do predador, que é um toque clássico da franquia, também está presente nesse filme. O doutor Henry Wu (B D Wong) é uma espécie de bônus, como o brinde que vem com o lanche, já que foi ele quem projetou a genética dos dinossauros desde o seu primeiro filme e do livro de Michael Crichton (leia aqui nossa matéria especial comparando o livro original e o filme clássico) e que agora retornou, nessa nova trilogia, como uma espécie de “gênio do mal”, fadado ao manto de vilão coadjuvante.

Enfim, entre alguns erros e vários bons acertos, ‘Jurassic World: Reino Ameaçado’ se torna refém da expectativa gerada em torno dele após o sucesso gritante do filme de três anos antes. Não é uma obra ruim, mas lamentavelmente não é tão boa quanto poderia ser; poderia ser melhor se principalmente não tivessem mostrado toda a ação do filme meses antes do lançamento. Mas fazer o quê, não é mesmo? Os estúdios gananciosos acham melhor sacrificar a experiência de assistir a uma história ironicamente na intenção de vendê-la. Produtores têm muito a aprender com as lições de seus próprios produtos, fica a dica: gananciosos acabam sendo devorados por aquilo que exploraram sem pudor.


Vale Ver !

DIREÇÃO

J.A. Bayona

EQUIPE TÉCNICA

Roteiro: Colin Trevorrow, Derek Connolly, Michael Crichton
Produção: Belén Atienza, Frank Marshall, Patrick Crowley, Thomas Hayslip
Fotografia: Óscar Faura
Trilha Sonora: Michael Giacchino
Estúdio: Amblin Entertainment, Apaches Entertainment, Legendary Entertainment, Perfect World Pictures, Universal Pictures, Universal Pictures International Production (UPIP)
Montador: Bernat Vilaplana
Distribuidora: Universal

ELENCO

BD Wong (Bradd Wong), Bryce Dallas Howard, Charlie Rawes, Chris Pratt, Daniel Eghan, Daniel Stisen, Daniella Pineda, Faith Fay, Geraldine Chaplin, James Cromwell, Jeff Goldblum, Jo Hart, Justice Smith, Kamil Lemieszewski, Max Baker, Michael Papajohn, Peter Jason, Rafe Spall, Robert Emms, Ronan Summers, Ted Levine, Toby Jones



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