'MegaTubarão 2' : com mais Jason Statham e menos tubarão, longa é eficiente na ação, mas se leva a sério demais | 2023
NOTA 5.0
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Existe filme feito para não ser levado a sério? A resposta é complexa, pois em muitos casos reproduz certo elitismo da indústria de entretenimentos hegemônica, que dita regras e separa o bom e o ruim segundo seus próprios parâmetros. O cinema de horror é um bom exemplo já que os ditos filmes “trash” são erroneamente associados ao conceito igualmente equivocado do “feito para ser ruim” ou, o famoso “tão ruim que é bom”. Longas de movimentos cinematográficos como o Cinema Novo também carregaram esse preconceito, em grande medida devido a precariedade das imagens, que não tem a ver necessariamente com o equipamento utilizado, mas sim por uma escolha estética apropriada aos valores que aquele movimento defende. Por outro lado “não se levar a sério”, pode ter outra conotação, essa menos problematizada. Trata-se da incrível capacidade, hoje cada vez mais rara, de rir de si mesmo. Tal característica pressupõe certa autoconsciência do absurdo e do ridículo, e é nessa corda bamba que ‘MegaTubarão 2’ encontra solo fértil e tem suas melhores sacadas, muito embora seja nesse mesmo lugar onde se perde por completo
Na sequência acompanhamos Jonas (Jason Statham) e sua nova equipe em mais uma exploração nas profundezas do Oceano Pacífico. Nessa jornada o time é surpreendido não apenas por novas e outas já conhecidas criaturas pré-históricas, mas também um grupo de exploração e mineração que secretamente vinha saqueando os recursos naturais do local.
O primeiro 'MegaTubarão', lançado em 2018, foi um tremendo sucesso. Tendo custado 130 milhões, ultrapassou a marca dos 500 milhões de dólares de bilheteria, garantindo uma sequência que viria mais cedo ou mais tarde. Parte desse mérito vai para Jason Statham, ator muito respeitado no gênero da açãoque emprestou seu ‘Star Power’ para dar o diferencial num longa que se utiliza da já desgastada figura do tubarão como ameaça. Outro segredo de sucesso veio da coprodução EUA/China, dois dos principais mercados em termos de público em todo o mundo. Como parte do acordo entre países, no primeiro Statham divide seu tempo de tela com a chinesa Li Bingbing, já agora ela é substituída por Wu Jing, ator nascido em Pequim e de perfil semelhante à do astro americano. A mudança é o primeiro dos acertos uma vez que a tentativa de emplacar um romance resultou no que o primeiro filme tem de pior e mais destoante.
Para os fãs do longa de 2018, a sequência provavelmente vai agradar, uma vez que o tom foi mantido, exceto por um detalhe: enquanto o elenco de apoio parece se divertir e abraçar a galhofa, o mesmo não acontece quando a câmera se volta a Jason Statham. Nesses momentos, até a trilha sonora ganha densidade e se antes a atmosfera era descontraída e debochada, com ele ganha tons homéricos, com sequências a lá Tom Cruise, porém, sem o mesmo êxito dado o abismo de talento que os separa. Wu Jing no papel de Jiuming, um cientista brilhante e aventureiro, se mostrou uma boa adição, com excelente fisicalidade e bom timing cômico. Page Kennedy, que interpretou o medroso ‘DJ’ também é destaque e retorna repaginado, dessa vez cheio de coragem e como principal alívio cômico. Suas aparições são divertidas, todavia algumas poucas parecem esquetes de humor descoladas de qualquer contexto. Os efeitos visuais continuam muito bons, especialmente na textura das criaturas e na interação delas com os humanos.
Um novo recorde de bilheteria sem dúvida trará novos filmes e a consolidação de uma franquia. Típico sucesso que a indústria adora e principal abordagem que faz a roda do comercio de entretenimento girar, e não há nada de mal nisso. A torcida é que essa continuidade venha junto com uma maior confiança e liberdade aos realizadores. Esperança um tanto ingênua e até utópica, mas sonhar não custa nada.
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