PiTacO do PapO! 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' - 2016
NOTA 9.0
Harry Potter é o grande fenômeno de uma geração, algo que pode ser comparado apenas com o impacto que 'Star Wars' teve em sua época – tanto na trilogia original na década de 70, quanto nos prequels dos anos 2000. E assim como ocorreu com a saga de Darth Vader, chegou a vez do universo mágico de J.K. Rowling se expandir e explorar a história por trás dos primeiros filmes com "Animais Fantásticos e Onde Habitam", um filme muito eficiente em contar novas e originais histórias dentro deste vasto e rico universo.
Ambientada em 1926, mais de 70 anos antes dos eventos de 'A Pedra Filosofal', a trama nos apresenta a Newt Scamander (Eddie Redmayne), um magizoologista inglês que chega em Nova York com uma maleta cheia de monstros e criaturas mágicas. Após um encontro com a ex-auror Tina Goldstein (Katherine Waterston) e o No-Maj, Jacob Kowalski (Dan Fogler), a maleta de Newt acaba aberta e algumas das criaturas escapam pela cidade. Juntos com a irmã de Tina, Queenie (Alison Sudol) o grupo parte para encontrar as criaturas antes que provoquem a exposição do mundo mágico aos non-majs.
Houve muita preocupação dos fãs e público geral com o anúncio do filme, acusado de um mero caça-níqueis da franquia; considerando que a ideia do projeto nasceu de um livro de poucas páginas que explorava a mitologia de algumas criaturas daquele universo. Com a notícia de que a Warner já teria 5 filmes planejados, o medo ficou ainda maior e remeteu à polêmica adaptação de Peter Jackson para 'O Hobbit', que esticou o curto livro de J.R.R. Tolkien em três longas intermináveis. Felizmente, J.K. Rowling revela-se muito mais cuidadosa ao estrear na função de roteirista, apresentando uma história original e empolgante que funciona de maneira orgânica – e ao mesmo tempo, independente – dentro daquele universo, que aqui ganha olhos bem mais adultos. É um filme que certamente foca-se no público que cresceu com os oito filmes anteriores, sendo mais difícil que uma criança embarque tão fácil em Animais Fantásticos do que A Pedra Filosofal. Isso pelo simples fato de não termos mais crianças estudantes como protagonistas, mas sim gente grande com ocupações variadas e que protagonizam eventos mais intimistas e adultos do que Harry, Rony e Hermione em suas primeiras aventuras.
A premissa dos animais perdidos na cidade é claramente algo mais leve e divertido, onde também conhecemos mais da imaginação incrível de Rowling em criar seres com habilidades variadas e ambientes completamente novos, mas a jornada acaba ganhando um subtexto político e sombrio que se mostra presente desde a primeira cena; quando vemos manchetes de jornais similares àquelas de 'A Ordem da Fênix'. Assim como fez com Voldemort ao longo de 7 livros e 8 filmes, Rowling coloca um poderoso antagonista às sombras, e o escolhido da vez é o poderoso bruxo Gerardo Grindewald (Johnny Depp, em rápida participação). Dessa forma, o roteiro de Rowling constrói subtramas que trazem o Ministério da Magia americano (o MACUSA) conduzindo uma investigação para encontrar o fanático e manter intacto o segredo do mundo bruxo, que é ameaçado quando misteriosos ataques por toda Nova York chamam a atenção do auror Percival Graves (Colin Farrell) e com a ascensão de um grupo fanático intitulado o Segundo Salem, que prega a existência de bruxos e a necessidade de sua destruição.
Tudo isso pode não ter relação alguma com a história de um magizoologista perdido em Nova York, mas Rowling mostra-se muito habilidosa ao equilibrar as diferentes subtramas e convergi-las em uma narrativa coesa, simples e completa. A atmosfera é bem apresentada, os novos conceitos e criaturas ganham introduções apropriadas e os personagens merecem aplausos pelo carisma e originalidade de suas personalidades, que vão além do que meramente copiar a do trio da saga Harry Potter, o que enriquece ainda mais a experiência.
A começar pelo protagonista encarnado com muita doçura pelo talentoso Eddie Redmayne, que expressa a timidez e excentricidade de Newt de forma adorável e divertida, marcado por uma voz quase que predominantemente introspectiva, um olhar baixo, mas passos largos e tortos que nos indicam sua natureza quase lunática. Seu amor e dedicação aos animais também convence, ainda mais durante uma cena específica onde sua maleta é confiscada por oficiais do MACUSA. Ao seu lado, temos a carismática Katherine Waterson como Tina, rendendo uma personagem expressiva e determinada, praticamente uma bússola moral com alguns problemas de socialização e autoridade, características bem desempenhadas pela atriz.
Porém, quem rouba a cena é Dan Fogler na pele de Jacob, assumidamente o alívio cômico mais eficiente e engraçado de toda a projeção. É uma ideia fantástica que finalmente tenhamos um Trouxa no meio da ação, garantindo que Rowling explore novas interações e relações entre personagens, como é caso com a excêntrica Queenie, que Alison Sudol é bem-sucedida ao criar uma figura movida pela curiosidade e a excitação de conhecer coisas novas. Juntos, este improvável quarteto garante uma boa interação e diálogos formidáveis. Vale também citar a excelente performance de Ezra Miller, que desempenha um papel difícil e fundamental como um dos membros do Segundo Salem, mas isso fica para a crítica com spoilers…
Ainda que com problemas de direção, todo o departamento técnico de Animais Fantásticos é impecável. A começar pelo trabalho magistral do designer de produção Stuart Craig, que só não será indicado ao Oscar novamente caso a Academia tenha sua memória apagada por um feitiço Obliviate, já que todos os cenários e ambientes do filme são maravilhosos. A lógica interna do MACUSA diferencia-se do Ministério da Magia de Londres através de sutis diferenças na arquitetura (um grande relógio que indica o quão perto os No-Maj estão de descobrirem a existência dos bruxos já revela uma diplomacia diferente daquela vista na terra da Rainha), o interior da maleta de Newt é fascinante pela variedade de habitats e ambientes que temos ali e um clube chefiado por um duende gângster mostra a influência genial do período da Lei Seca naquele universo. Vale também mencionar a originalidade da sala dedicada às sentenças de morte e ao aspecto quase digno de um terror da Nova Inglaterra com o interior da casa do Segundo Salem.
No geral, 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' é uma maravilhosa adição ao universo de Harry Potter. Graças ao ótimo roteiro de J.K. Rowling e a força de seus personagens carismáticos, temos aqui a oportunidade de mais alguns anos explorando o mundo mágico e suas histórias cativantes. E com um público mais adulto e uma história com ritmo diferente em mente, acredito que pode ser a chance de descobrirmos algo tão especial quanto o conto do Menino que Sobreviveu…
Super Vale Ver !
Por Bruno Santos
Harry Potter é o grande fenômeno de uma geração, algo que pode ser comparado apenas com o impacto que 'Star Wars' teve em sua época – tanto na trilogia original na década de 70, quanto nos prequels dos anos 2000. E assim como ocorreu com a saga de Darth Vader, chegou a vez do universo mágico de J.K. Rowling se expandir e explorar a história por trás dos primeiros filmes com "Animais Fantásticos e Onde Habitam", um filme muito eficiente em contar novas e originais histórias dentro deste vasto e rico universo.
Ambientada em 1926, mais de 70 anos antes dos eventos de 'A Pedra Filosofal', a trama nos apresenta a Newt Scamander (Eddie Redmayne), um magizoologista inglês que chega em Nova York com uma maleta cheia de monstros e criaturas mágicas. Após um encontro com a ex-auror Tina Goldstein (Katherine Waterston) e o No-Maj, Jacob Kowalski (Dan Fogler), a maleta de Newt acaba aberta e algumas das criaturas escapam pela cidade. Juntos com a irmã de Tina, Queenie (Alison Sudol) o grupo parte para encontrar as criaturas antes que provoquem a exposição do mundo mágico aos non-majs.
Houve muita preocupação dos fãs e público geral com o anúncio do filme, acusado de um mero caça-níqueis da franquia; considerando que a ideia do projeto nasceu de um livro de poucas páginas que explorava a mitologia de algumas criaturas daquele universo. Com a notícia de que a Warner já teria 5 filmes planejados, o medo ficou ainda maior e remeteu à polêmica adaptação de Peter Jackson para 'O Hobbit', que esticou o curto livro de J.R.R. Tolkien em três longas intermináveis. Felizmente, J.K. Rowling revela-se muito mais cuidadosa ao estrear na função de roteirista, apresentando uma história original e empolgante que funciona de maneira orgânica – e ao mesmo tempo, independente – dentro daquele universo, que aqui ganha olhos bem mais adultos. É um filme que certamente foca-se no público que cresceu com os oito filmes anteriores, sendo mais difícil que uma criança embarque tão fácil em Animais Fantásticos do que A Pedra Filosofal. Isso pelo simples fato de não termos mais crianças estudantes como protagonistas, mas sim gente grande com ocupações variadas e que protagonizam eventos mais intimistas e adultos do que Harry, Rony e Hermione em suas primeiras aventuras.
A premissa dos animais perdidos na cidade é claramente algo mais leve e divertido, onde também conhecemos mais da imaginação incrível de Rowling em criar seres com habilidades variadas e ambientes completamente novos, mas a jornada acaba ganhando um subtexto político e sombrio que se mostra presente desde a primeira cena; quando vemos manchetes de jornais similares àquelas de 'A Ordem da Fênix'. Assim como fez com Voldemort ao longo de 7 livros e 8 filmes, Rowling coloca um poderoso antagonista às sombras, e o escolhido da vez é o poderoso bruxo Gerardo Grindewald (Johnny Depp, em rápida participação). Dessa forma, o roteiro de Rowling constrói subtramas que trazem o Ministério da Magia americano (o MACUSA) conduzindo uma investigação para encontrar o fanático e manter intacto o segredo do mundo bruxo, que é ameaçado quando misteriosos ataques por toda Nova York chamam a atenção do auror Percival Graves (Colin Farrell) e com a ascensão de um grupo fanático intitulado o Segundo Salem, que prega a existência de bruxos e a necessidade de sua destruição.
Tudo isso pode não ter relação alguma com a história de um magizoologista perdido em Nova York, mas Rowling mostra-se muito habilidosa ao equilibrar as diferentes subtramas e convergi-las em uma narrativa coesa, simples e completa. A atmosfera é bem apresentada, os novos conceitos e criaturas ganham introduções apropriadas e os personagens merecem aplausos pelo carisma e originalidade de suas personalidades, que vão além do que meramente copiar a do trio da saga Harry Potter, o que enriquece ainda mais a experiência.
A começar pelo protagonista encarnado com muita doçura pelo talentoso Eddie Redmayne, que expressa a timidez e excentricidade de Newt de forma adorável e divertida, marcado por uma voz quase que predominantemente introspectiva, um olhar baixo, mas passos largos e tortos que nos indicam sua natureza quase lunática. Seu amor e dedicação aos animais também convence, ainda mais durante uma cena específica onde sua maleta é confiscada por oficiais do MACUSA. Ao seu lado, temos a carismática Katherine Waterson como Tina, rendendo uma personagem expressiva e determinada, praticamente uma bússola moral com alguns problemas de socialização e autoridade, características bem desempenhadas pela atriz.
Porém, quem rouba a cena é Dan Fogler na pele de Jacob, assumidamente o alívio cômico mais eficiente e engraçado de toda a projeção. É uma ideia fantástica que finalmente tenhamos um Trouxa no meio da ação, garantindo que Rowling explore novas interações e relações entre personagens, como é caso com a excêntrica Queenie, que Alison Sudol é bem-sucedida ao criar uma figura movida pela curiosidade e a excitação de conhecer coisas novas. Juntos, este improvável quarteto garante uma boa interação e diálogos formidáveis. Vale também citar a excelente performance de Ezra Miller, que desempenha um papel difícil e fundamental como um dos membros do Segundo Salem, mas isso fica para a crítica com spoilers…
Ainda que com problemas de direção, todo o departamento técnico de Animais Fantásticos é impecável. A começar pelo trabalho magistral do designer de produção Stuart Craig, que só não será indicado ao Oscar novamente caso a Academia tenha sua memória apagada por um feitiço Obliviate, já que todos os cenários e ambientes do filme são maravilhosos. A lógica interna do MACUSA diferencia-se do Ministério da Magia de Londres através de sutis diferenças na arquitetura (um grande relógio que indica o quão perto os No-Maj estão de descobrirem a existência dos bruxos já revela uma diplomacia diferente daquela vista na terra da Rainha), o interior da maleta de Newt é fascinante pela variedade de habitats e ambientes que temos ali e um clube chefiado por um duende gângster mostra a influência genial do período da Lei Seca naquele universo. Vale também mencionar a originalidade da sala dedicada às sentenças de morte e ao aspecto quase digno de um terror da Nova Inglaterra com o interior da casa do Segundo Salem.
No geral, 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' é uma maravilhosa adição ao universo de Harry Potter. Graças ao ótimo roteiro de J.K. Rowling e a força de seus personagens carismáticos, temos aqui a oportunidade de mais alguns anos explorando o mundo mágico e suas histórias cativantes. E com um público mais adulto e uma história com ritmo diferente em mente, acredito que pode ser a chance de descobrirmos algo tão especial quanto o conto do Menino que Sobreviveu…
Super Vale Ver !
Por Bruno Santos
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