Dica do Papo - 'Minha Adorável Lavanderia' | 1985
Por Rogério Machado
'Minha Adorável Lavanderia', era só o início da carreira do festejado diretor Stephen Frears, porém mesmo ali no início de tudo, o cineasta já dava indícios do que haveria de trazer para o mundo da sétima arte: com um olhar clínico para as relações e os conflitos sociais, lá em 1985 ele já apresentava temas densos e discussões sérias vestidas de comédias deliciosas e com uma leveza raras vezes vistas em trabalhos de estreia. 'My Beatiful Laundrette' (no original) foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro em 1986, e é baseado num popular romance de autoria do escritor Hanif Kureishi. A produção pôde ser vista novamente nos cinemas durante o Festival de Cinema do Rio esse ano.
Essa comédia dramática se passa na Inglaterra de Margaret Thatcher, onde vive uma família paquistanesa que migrou para Londres em busca de melhores condições de trabalho. Nasser Hussein tem algumas empresas. Ele e seu ajudante, Salim, fazem de tudo para obter lucros maiores. Assim, a família Hussein vive muito bem e, inclusive, ostenta seu estilo de vida. Ali é o irmão do Hussein - um jornalista alcoólatra outrora bem sucedido que tem uma posição política de esquerda e que não concorda com o thatcherismo. O filho de Ali, Omar (Gordon Warnecke), começa a gerenciar a lavanderia do tio Nasser e tem grandes planos para se dar bem nos negócios , e é no meio de todo esse afã que ele reencontra o amigo Johnny (Daniel Day-Lewis), um rebelde no meio de um grupo de punks, que juntos irão dividir muito mais do que a sociedade na Lavanderia recém inaugurada.
Em tempos onde a intolerância cria força através de politicagens e frentes de movimentos que usam leis para reafirmar seus preconceitos, 'Minha Adorável Lavanderia' é um tiro na homofobia, no misoginia e no preconceito com raças e etnias que hoje ganha forças através das campanhas do presidente da maior potência mundial. Mas é bem verdade que o filme de Fryers vai muito além da voz militante: a história nos diz muito sobre amadurecer, sobre a formação do caráter e junto com isso tudo, adquirir responsabilidades, mesmo diante das circunstâncias adversas.
Reformada por Omar e Johnny - esse improvável casal por diversos motivos -
para ser a versão-lavanderia de um Hotel Ritz, bem no meio do paupérrimo sul de Londres, o lugar se torna o santuário das causas impossíveis que acabam sempre se materializando. Ali ouve-se ópera enquanto as roupas passam pela centrífuga, e dublar o tenor da canção não só não é nada incomum, como é quase um ritual estabelecido. Ali o único maniqueísmo possível é o que opõe aqueles que passam pela vida espalhando animosidades e os que são afetivos a toda prova. É isso que distancia o primo pilantra de Omar da lavanderia, e ao mesmo tempo o que torna os punks amigos de Johnny os primeiros a se converterem à causa da reconstrução do lugar. A disposição simples em baixar a guarda, suspender o fogo, e tentar ouvir o outro, ao invés de disputar no grito quem é o maior vilão.
Essa bela obra que já viu passar três décadas é essencial por diversos motivos, uma pela linguagem do mestre Fryers, outra pela mensagem necessária e irremediavelmente atual e também porque tem Day-Lewis no despontar de seu talento. É claro que vê-lo em ação tão jovem e com tanto talento faz crescer aquela saudade básica do ator nas telas, já que ele anunciou recentemente sua aposentadoria.. Porque Daniel? Porque?
Fica essa dica imperdível pra que ainda não conferiu.
DIREÇÃO
Stephen Frears
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Hanif Kureishi
Produção: Sarah Radclyffe, Tim Bevan
Trilha Sonora: Ludus Tonalis
ELENCO
Daniel Day-Lewis, Derrick Branche, Gordon Warnecke, Rita Wolf, Roshan Seth, Saeed Jaffrey
'Minha Adorável Lavanderia', era só o início da carreira do festejado diretor Stephen Frears, porém mesmo ali no início de tudo, o cineasta já dava indícios do que haveria de trazer para o mundo da sétima arte: com um olhar clínico para as relações e os conflitos sociais, lá em 1985 ele já apresentava temas densos e discussões sérias vestidas de comédias deliciosas e com uma leveza raras vezes vistas em trabalhos de estreia. 'My Beatiful Laundrette' (no original) foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro em 1986, e é baseado num popular romance de autoria do escritor Hanif Kureishi. A produção pôde ser vista novamente nos cinemas durante o Festival de Cinema do Rio esse ano.
Essa comédia dramática se passa na Inglaterra de Margaret Thatcher, onde vive uma família paquistanesa que migrou para Londres em busca de melhores condições de trabalho. Nasser Hussein tem algumas empresas. Ele e seu ajudante, Salim, fazem de tudo para obter lucros maiores. Assim, a família Hussein vive muito bem e, inclusive, ostenta seu estilo de vida. Ali é o irmão do Hussein - um jornalista alcoólatra outrora bem sucedido que tem uma posição política de esquerda e que não concorda com o thatcherismo. O filho de Ali, Omar (Gordon Warnecke), começa a gerenciar a lavanderia do tio Nasser e tem grandes planos para se dar bem nos negócios , e é no meio de todo esse afã que ele reencontra o amigo Johnny (Daniel Day-Lewis), um rebelde no meio de um grupo de punks, que juntos irão dividir muito mais do que a sociedade na Lavanderia recém inaugurada.
Em tempos onde a intolerância cria força através de politicagens e frentes de movimentos que usam leis para reafirmar seus preconceitos, 'Minha Adorável Lavanderia' é um tiro na homofobia, no misoginia e no preconceito com raças e etnias que hoje ganha forças através das campanhas do presidente da maior potência mundial. Mas é bem verdade que o filme de Fryers vai muito além da voz militante: a história nos diz muito sobre amadurecer, sobre a formação do caráter e junto com isso tudo, adquirir responsabilidades, mesmo diante das circunstâncias adversas.
Reformada por Omar e Johnny - esse improvável casal por diversos motivos -
para ser a versão-lavanderia de um Hotel Ritz, bem no meio do paupérrimo sul de Londres, o lugar se torna o santuário das causas impossíveis que acabam sempre se materializando. Ali ouve-se ópera enquanto as roupas passam pela centrífuga, e dublar o tenor da canção não só não é nada incomum, como é quase um ritual estabelecido. Ali o único maniqueísmo possível é o que opõe aqueles que passam pela vida espalhando animosidades e os que são afetivos a toda prova. É isso que distancia o primo pilantra de Omar da lavanderia, e ao mesmo tempo o que torna os punks amigos de Johnny os primeiros a se converterem à causa da reconstrução do lugar. A disposição simples em baixar a guarda, suspender o fogo, e tentar ouvir o outro, ao invés de disputar no grito quem é o maior vilão.
Essa bela obra que já viu passar três décadas é essencial por diversos motivos, uma pela linguagem do mestre Fryers, outra pela mensagem necessária e irremediavelmente atual e também porque tem Day-Lewis no despontar de seu talento. É claro que vê-lo em ação tão jovem e com tanto talento faz crescer aquela saudade básica do ator nas telas, já que ele anunciou recentemente sua aposentadoria.. Porque Daniel? Porque?
Fica essa dica imperdível pra que ainda não conferiu.
'Papo de Cinemateca - Muito Cinema pra Todo Mundo'
DIREÇÃO
Stephen Frears
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Hanif Kureishi
Produção: Sarah Radclyffe, Tim Bevan
Trilha Sonora: Ludus Tonalis
ELENCO
Daniel Day-Lewis, Derrick Branche, Gordon Warnecke, Rita Wolf, Roshan Seth, Saeed Jaffrey
Deixe seu Comentário: