PiTacO do PapO - 'Jogador Nº 1' | 2018
NOTA 9.0
Não tem nada a ver com o livro, mas é muito bom.
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Não é novidade nenhuma nos tempos atuais que o que domina o mundo é a internet. Vinte anos atrás o futuro que vivemos hoje pareceria ficção científica, já que tudo se resolve por meio da rede. Pessoas se conhecem, namoram, abrem empresas, ficam milionárias, aplicam golpes, transam, insultam, destroem, constroem, vivem. Na era do “agora”, onde até o dinheiro é virtual (Bitcoins estão em evidência), o universo apresentado em ‘Jogador Nº 1’, novo filme do diretor Steven Spielberg, se faz parecer cada dia mais próximo de uma realidade palpável.
O filme, que é a última estreia de março de 2018, é uma adaptação da obra genial de Ernest Cline. Já apresentamos as diferenças entre o livro e o filme, mas não explicamos muito de sua ideia. A trama gira em torno de Wade Watts. Jovem e cheio de vida, Wade é apresentado ao público no cinema de uma forma muito diferente da vista no livro. Vamos a uma breve sinopse de nossa própria autoria: Wade é nerd tímido que é um usuário do Oasis (jogo de realidade virtual interativa) e que, apesar de fanático pelos inúmeros atrativos, é um pé rapado. Por falta de dinheiro, o único recurso disponível para seu avatar, Parzival, é o de frequentar o planeta de estudo onde ele cursa o ensino médio. Tudo na vindoura década de quarenta é virtual, até mesmo os sistemas de ensino. E tudo circula ao redor do Oasis. Porém, a sorte de Wade muda quando ele consegue encontrar a primeira chave de um conjunto de três, deixada pelo finado fundador do programa Oasis, a fim de promover um concurso que envolve uma quantia trilionária e todo o controle da plataforma de entretenimento. Após a primeira vitória, Wade passa a ganhar recursos e conquista uma legião de fãs, mas ele precisa correr contra o tempo se quiser evitar que seu principal refúgio caia nas mãos de uma companhia mercenária. Alianças são feitas, amizades são quebradas, e o campeão terá que provar seus valores para herdar a posição mais cobiçada do mundo: ser o dono do Oasis. Essas palavras poderiam ser muito bem aplicadas para descrever o livro, mas definitivamente passam longe de serem descritivas do Wade descolado e cheio de meios que o filme de Spielberg trás.
A imensa dificuldade financeira de Wade é totalmente ignorada, e o fato de seu avatar ficar preso em um único planeta simplesmente não existe. Mudaram o concurso de James Halliday (o fundador da Oasis) e deturparam muito do corpo da história. As chaves e portais a serem abertos são meramente obstáculos a serem contornados, e não há o charme da descoberta de cada nova pista, nem a ansiedade gerada ao constatar algo novo após uma epifania, e nem tampouco o glamour de correr contra o tempo e vencê-lo. Falta o mistério nessa adaptação, e isso pode ser bastante frustrante para quem leu ao material original. Saem os estereótipos nerds e os comentários de punheta e entram os membros de uma gangue do “politicamente correto”. O plano brilhante de Wade no livro dá lugar a sequências de ação em um 3D pulsante e intenso, mas que ainda assim não dribla a confusão que o filme se torna para quem não sabe nada sobre esse novo universo mitológico.
Não há muita preocupação em explicar ao espectador as funções de determinados personagens e instituições, e isso pode fazer com que “leigo” de ‘Jogador Nº 1’ fique sem entender as motivações que cercam alguns grupos ou figuras importantes da narrativa. O pecado do filme é faltar com a coerência dentro de si mesmo, uma vez que para usar o Oasis é necessário todo um aparato (esteira multidirecional é um dos itens) e vê-se pessoas correndo loucas pelas ruas, com seus avatares imitando com perfeição seus movimentos e sem a interrupção de obstáculos do mundo real no caminho. É quase como se o jogo fosse outra dimensão perfeitamente nessa cena, e não um universo virtual totalmente diferente.
Entretanto, as mudanças, apesar de enormes e impactantes no resultado final, são muito boas. O acréscimo de cenas de ação bem conduzidas é um acerto, assim como os easter-eggs que só poderão ser notados pausando quadro por quadro. A interação entre as locações reais e os personagens digitais é de uma qualidade excepcional, o que pode ser visto na cena que faz tributo a ‘O Iluminado’, por exemplo. A nostalgia que consegue se impregnar em todos os cantos da tela, com referências a todas as mídias e gerações desde os anos oitenta, é a mais visceral já levada às telonas.
Com erros e acertos, a adaptação de ‘Jogador Nº 1’ se destaca dos demais filmes em cartaz por sua qualidade absoluta, por sua arte bem feita e também, principalmente, por ser um arauto do que a cultura nerd tem de melhor a oferecer, em um espetáculo feito em louvor ao amor que milhares de pessoas possuem pelos elementos que marcaram sua infância, sua juventude, e perpetuaram marcas em suas vidas. Viva a nostalgia!
Super Vale Ver!
Não tem nada a ver com o livro, mas é muito bom.
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Não é novidade nenhuma nos tempos atuais que o que domina o mundo é a internet. Vinte anos atrás o futuro que vivemos hoje pareceria ficção científica, já que tudo se resolve por meio da rede. Pessoas se conhecem, namoram, abrem empresas, ficam milionárias, aplicam golpes, transam, insultam, destroem, constroem, vivem. Na era do “agora”, onde até o dinheiro é virtual (Bitcoins estão em evidência), o universo apresentado em ‘Jogador Nº 1’, novo filme do diretor Steven Spielberg, se faz parecer cada dia mais próximo de uma realidade palpável.
O filme, que é a última estreia de março de 2018, é uma adaptação da obra genial de Ernest Cline. Já apresentamos as diferenças entre o livro e o filme, mas não explicamos muito de sua ideia. A trama gira em torno de Wade Watts. Jovem e cheio de vida, Wade é apresentado ao público no cinema de uma forma muito diferente da vista no livro. Vamos a uma breve sinopse de nossa própria autoria: Wade é nerd tímido que é um usuário do Oasis (jogo de realidade virtual interativa) e que, apesar de fanático pelos inúmeros atrativos, é um pé rapado. Por falta de dinheiro, o único recurso disponível para seu avatar, Parzival, é o de frequentar o planeta de estudo onde ele cursa o ensino médio. Tudo na vindoura década de quarenta é virtual, até mesmo os sistemas de ensino. E tudo circula ao redor do Oasis. Porém, a sorte de Wade muda quando ele consegue encontrar a primeira chave de um conjunto de três, deixada pelo finado fundador do programa Oasis, a fim de promover um concurso que envolve uma quantia trilionária e todo o controle da plataforma de entretenimento. Após a primeira vitória, Wade passa a ganhar recursos e conquista uma legião de fãs, mas ele precisa correr contra o tempo se quiser evitar que seu principal refúgio caia nas mãos de uma companhia mercenária. Alianças são feitas, amizades são quebradas, e o campeão terá que provar seus valores para herdar a posição mais cobiçada do mundo: ser o dono do Oasis. Essas palavras poderiam ser muito bem aplicadas para descrever o livro, mas definitivamente passam longe de serem descritivas do Wade descolado e cheio de meios que o filme de Spielberg trás.
A imensa dificuldade financeira de Wade é totalmente ignorada, e o fato de seu avatar ficar preso em um único planeta simplesmente não existe. Mudaram o concurso de James Halliday (o fundador da Oasis) e deturparam muito do corpo da história. As chaves e portais a serem abertos são meramente obstáculos a serem contornados, e não há o charme da descoberta de cada nova pista, nem a ansiedade gerada ao constatar algo novo após uma epifania, e nem tampouco o glamour de correr contra o tempo e vencê-lo. Falta o mistério nessa adaptação, e isso pode ser bastante frustrante para quem leu ao material original. Saem os estereótipos nerds e os comentários de punheta e entram os membros de uma gangue do “politicamente correto”. O plano brilhante de Wade no livro dá lugar a sequências de ação em um 3D pulsante e intenso, mas que ainda assim não dribla a confusão que o filme se torna para quem não sabe nada sobre esse novo universo mitológico.
Não há muita preocupação em explicar ao espectador as funções de determinados personagens e instituições, e isso pode fazer com que “leigo” de ‘Jogador Nº 1’ fique sem entender as motivações que cercam alguns grupos ou figuras importantes da narrativa. O pecado do filme é faltar com a coerência dentro de si mesmo, uma vez que para usar o Oasis é necessário todo um aparato (esteira multidirecional é um dos itens) e vê-se pessoas correndo loucas pelas ruas, com seus avatares imitando com perfeição seus movimentos e sem a interrupção de obstáculos do mundo real no caminho. É quase como se o jogo fosse outra dimensão perfeitamente nessa cena, e não um universo virtual totalmente diferente.
Entretanto, as mudanças, apesar de enormes e impactantes no resultado final, são muito boas. O acréscimo de cenas de ação bem conduzidas é um acerto, assim como os easter-eggs que só poderão ser notados pausando quadro por quadro. A interação entre as locações reais e os personagens digitais é de uma qualidade excepcional, o que pode ser visto na cena que faz tributo a ‘O Iluminado’, por exemplo. A nostalgia que consegue se impregnar em todos os cantos da tela, com referências a todas as mídias e gerações desde os anos oitenta, é a mais visceral já levada às telonas.
Com erros e acertos, a adaptação de ‘Jogador Nº 1’ se destaca dos demais filmes em cartaz por sua qualidade absoluta, por sua arte bem feita e também, principalmente, por ser um arauto do que a cultura nerd tem de melhor a oferecer, em um espetáculo feito em louvor ao amor que milhares de pessoas possuem pelos elementos que marcaram sua infância, sua juventude, e perpetuaram marcas em suas vidas. Viva a nostalgia!
Super Vale Ver!
DIREÇÃO
- Steven Spielberg
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Eric Eason, Ernest Cline, Zak Penn
Produção: Dan Farah, Donald De Line, Kristie Macosko Krieger, Steven Spielberg
Fotografia: Janusz Kaminski
Trilha Sonora: Alan Silvestri
Estúdio: Amblin Entertainment, De Line Pictures, Dreamworks
Montador: Michael Kahn, Sarah Broshar
Distribuidora: Warner Bros.
ELENCO
Amanda LaCount, Amy Clare Beales, Armani Jackson, Asan N'Jie, Ben Mendelsohn, Britain Dalton, Cara Pifko, Carter Hastings, Daniel Tuite, Daniel Zolghadri, David Barrera, Elisa Perry, Fran Targ, Gem Refoufi, Hannah John-Kamen, Jacob Bertrand, Jacqueline Ramnarine, Jaeden Bettencourt, Jorge Leon Martinez, Julia Nickson, Julian Edwards, Kae Alexander, Kathryn Wilder, Kiera Bell, Kit Connor, Laurence Spellman, Lena Waithe, Letitia Wright, Lynne Wilmot, Mandy June Turpin, Mark Rylance, Mckenna Grace, Michael Wildman, Nasir Jama, Neet Mohan, Olivia Cooke, Philip Zhao, Ralph Ineson, Rona Morison, Sarah Sharman, Simon Pegg, Susan Lynch, Sydney Brower, T.J. Miller, Tye Sheridan, Violet McGraw, Win Morisak
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