PiTacO do PapO - 'A Moça do Calendário' | 2018
NOTA 7.0
Por Rafael Yanomine @cinemacrica
Deve-se, no mínimo, respeitar a ousadia de obras que explicitamente se desprendem de convenções. Em 'A Moça do Calendário', a diretora Helena Ignêz segue essa vertente e reforça sua identidade com o Cinema Marginal. Numa obra utópica que preserva a aderência com essa escola, marcada pela forte relação com o Tropicalismo e, numa instância maior, de espírito revolucionário, vemos um filme com fortes toques autorais.
No centro, está o maestro Inácio, representado pelo excelente André Guerreiro Lopes. O termo maestro é conveniente, pois como já se pode ver na primeira cena onde o protagonista rege o trânsito do centro de São Paulo, também conduz seu fértil imaginário por diversas situações.
O filme ancora a vivência de Inácio em dois contextos econômicos opostos. De um lado, o mecânico de uma singela oficina explorado por um chefe retratado de forma caricata que simboliza a luta de classes e uma crítica ao capitalismo. Do outro, memórias de um Inácio filho de um latifundiário. Entre esses dois pólos transita sua musa, a garota que estampa o calendário da oficina e quem Inácio se imagina possuindo nas terras do pai.
O filme ancora a vivência de Inácio em dois contextos econômicos opostos. De um lado, o mecânico de uma singela oficina explorado por um chefe retratado de forma caricata que simboliza a luta de classes e uma crítica ao capitalismo. Do outro, memórias de um Inácio filho de um latifundiário. Entre esses dois pólos transita sua musa, a garota que estampa o calendário da oficina e quem Inácio se imagina possuindo nas terras do pai.
A diretora se empenha em tornar turva as crenças de Inácio em diversos âmbitos. Se por um lado constrói um ambiente hostil na oficina, o protagonista também não se empolga com a militância no MST da sua musa. Outras sutilezas também são adicionadas como a ausência de preferência de comportamento da parceira no sexo ou da própria profundidade de discussão política com o amigo dono de um bar. Um recurso técnico que me parece endossar esse fenômeno da mente turva e imaginativa é a proposital falta de luz que predomina no filme. Falando em técnica, as externas rodadas no centro de São Paulo são belíssimas.
É difícil ficar indiferente ao filme. O desgosto pode vir da falta de identificação com a proposta autoral. Assim como a admiração será proporcional ao julgamento da qualidade da representação do imaginário e assuntos discutidos por meio da vivência do protagonista.
Vale Ver !
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