PiTacO do PapO - 'Beatriz' | 2019
NOTA 5.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
Novos ares trazem novas experiências para o casal Marcelo e Beatriz. Recém chegados a Lisboa, o marido que previamente havia se comprometido a escrever contos para uma revista, aceita o desafio de escrever um romance tendo a remuneração vinculada ao sucesso da obra. Esse rompimento de plano, que contava com o alinhamento da esposa, insere a vida conjugal num novo tipo de relação submetida ao processo criativo da atividade literária de Marcelo.
O ato de narrar fatos pode se valer de um infindável arsenal de recursos. Em "Beatriz", o diretor Alberto Graça acaba alternando entre extremos que fragilizam a identidade da obra. Há momentos em que a esquematização segue um didatismo exagerado de sequenciamento de fatos complementares. Ou seja, uma situação explicada por outra por meio de conexões excessivamente diretas. Por outro lado, algumas situações perduram por muito tempo até encontrarem qualquer amparo lógico.
As escolhas do diretor para posicionar a opinião dos personagens oscilam entre o razoável e a deselegância. A falta de vocação de Marcelo para a paternidade, por exemplo, é exposta como uma verbalização negativa grosseira. Não do ponto de vista de requinte cinematográfico propositalmente hostil, mas como recurso de resolução imediatista.
Por fim, a relação abusiva, principal conflito da trama, carece de fundamentos que a mantenha de pé. Por maior que possa ser a submissão de algum cônjuge, o elo fraco pondera relações contextuais para justificar a posição fraca. A construção do vÃnculo afetivo entre Beatriz e Marcelo, associada a personalidade forte da esposa, não condizem com a proposta de abuso extrema sugerida. Beatriz simplesmente não se encaixa na escravidão cega em que o roteiro busca inseri-la.
É um filme que trata de debates atuais relevantes, mas desliza no requinte e embasamento lógico.
Nem Vale Ver !
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