PiTacO do PapO - 'Fora de Série' | 2019
NOTA 8.0
Por Sérgio Ghesti @meuhype
A estreia de Olivia Wilde (atriz) na direção de um longa é uma das surpresas do ano, mesmo em uma época onde comédias adolescentes horrorosas produzidas pela Netflix permeiam a paz dos jovens, há também boas surpresas com o suspiro de filmes independentes como "Quase 18", "Lady Bird", "Oitava Série" e este "Fora de Série".
O filme chamou bastante atenção no festival de Sundance, acostumado a ser um celeiro de produções inovadoras e ousadas. Diante dos burburinhos da produção, o pequeno estúdio Annapurna Pictures conseguiu distribuir o longa em variados países e conseguiu também uma força da Netflix que se interessou no filme e deve distribui-lo em alguns países. Nos EUA o longa já arrecadou mais de 17 milhões nos cinemas e já é considerado um sucesso pelo seu baixo custo de produção. O sucesso do filme é justamente se desapegar dos tradicionais rótulos: não é um filme sobre duas garotas nerds que querem se vestir como as populares e fazer de tudo para conquistar o carinha descolado, é uma história sobre a amizade entre duas garotas que querem além de estudar aproveitarem a adolescência, pois ela só acontece uma vez na vida. Esta é uma comédia original, moderna e sem filtros, uma história sobre amadurecimento, descobertas e as dificuldades do ensino médio. Afinal, a adolescência é uma fase de altos e baixos.
O filme entende uma dinâmica bastante importante na atualidade entre os jovens, eles são multidimensionais e podem ser muitas coisas ao mesmo tempo. Aquele padrão jovem da década de 80 e 90 já não se enquadra mais nessa geração 'Y', também chamada geração do milênio - geração da internet ou Millennials. Olivia Wilde analisa a conclusão da experiência colegial através dos olhos de duas garotas “inteligentes”, todas de uma só vez mostrando um lado diferente de um gênero frequentemente explorado mas quase nunca com a naturalidade dos próprios jovens.
Na trama, as melhores amigas e alunas fora de série, Amy (Kaitlyn Dever) e Molly (Beanie Feldstein) sempre focaram em tirar as melhores notas e se destacar dos demais alunos. O que nenhuma delas esperava era que seus colegas que só queriam curtir, fossem aprovados nas mesmas universidades que elas. Ao perceber que poderiam ter se divertido entre uma prova e outra, elas decidem correr atrás do prejuízo e recuperar os anos perdidos de diversão em uma única noite. A tarefa dessa vez é um pouco diferente: aproveitar ao máximo os últimos momentos do ensino médio e provar que podem ser as melhores em tudo, até mesmo quando o assunto é diversão. Os roteiristas apresentam um dos filmes adolescentes mais contagiantes e otimistas vistos atualmente, tanto para o público alvo como para quem já viveu essa fase e consegue se enxergar dentro da história. Na medida que tudo se desenrola, percebemos as várias camadas de personagens e estilos que fogem dos estereótipos tradicionais dessas produções - quando passa perto de apresentar um padrão, transparece a sensação de humanidade no roteiro, permitindo que o filme transborde em otimismo mesmo quando a situação não colabora.
Talvez a produção seja o "Curtindo a Vida Adoidado" (1986) dessa geração. Em sua concepção, a dinâmica entre Molly e Amy, traz uma visão diferente das garotas, de certa forma até atrevidas e empoderadas. Por muito tempo as jovens americanas ficavam reféns de serem ou líderes de torcida, integrantes de irmandades, ou sob interesses amorosos pouco desenvolvidos, e muito raramente se fugia dessa equação. Até hoje muitos filmes ainda agem assim com garotas, sem perceber que elas podem também apenas possuir desejo sexual, sem necessidade de ser a pessoa carismática da escola, que seja ela mesma e como quiser. O filme cresce ainda mais quando percebemos a enorme distância de protagonismo das mulheres de filmes populares entre os jovens há 20 anos atrás como "Ela é Demais" (1999), "10 Coisas que eu Odeio em Você" (1999) e "American Pie" (1999), sempre com garotas em função de rapazes. "Fora de Série" dá um passo adiante e injeta energia a um gênero que em geral não sai da zona de conforto. De repente, o público se dá conta que está vendo uma representação de personagens profundos, com histórias que vão além da "norma", que demonstra a pluralidade das pessoas. Destaque também para a maravilhosa trilha sonora! Imperdível.
Vale Ver !
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