PiTacO do PapO - '45 Dias Sem Você' | 2019
NOTA 6.5
Por Rogério Machado
Existem mil maneiras de se curar uma dor de amor: há quem diga que a falta de um amor só se cura com um novo amor, mas é certo que não é bem assim que tudo funciona. Um sentimento não é uma chavinha que ligamos e desligamos a qualquer momento. Dentre as muitas maneiras de esquecer um abandono o protagonista de '45 Dias Sem Você', que passou por um circuito muito reduzido em maio desse ano, escolheu viajar pelo mundo para aliviar a dor que é aquela que dizem que só o tempo cura.
Na história, depois de esperar 45 dias por um amor que jamais voltou, Rafael (Rafael de Bona) faz a única coisa que parece possível fazer com seu coração partido: exilar-se de si mesmo. Ele parte rumo a três diferentes destinos, para em cada um deles conviver com amigos que, por motivos e em tempos diferentes, decidiram abandonar o mundo em que viviam. Júlia na Inglaterra, Fábio em Portugal e Mayara na Argentina. Com cada um desses amigos, em diferentes partes do mundo, ele haveria de absorver algo de novo e inspirador para então aprender a manusear melhor o 'peso da bagagem' que ele trazia consigo.
Rafael vive num espiral de sentimentos e emoções, que assim como seu estado de espírito e humor, se alternam sem a menor cerimônia. Rafael é prematuro, emocionalmente instável e consegue a atenção dos amigos muito facilmente ao externar tanto a doçura típica de sua personalidade, como seus demônios que giram em torno de relacionamentos mal resolvidos. É nesse ponto que o roteiro de Rafael Gomes (aqui também atuando na direção) falha ao revelar um personagem fraco e com um discurso enfadonho sobre um relacionamento de oito anos com Daniel que ele mesmo deu um fim, sobre um caso esporádico com Ícaro (Ícaro Silva), e um possível relacionamento 'que foi sem nunca ter sido', que toma os dias de Rafael e o título desse projeto.
'45 Dias Sem Você', bebe de muitas referências de diretores que todos nós conhecemos: nota-se Wes Anderson, Woody Allen, e eu arriscaria até uma pincelada de Almodóvar. Mas o que sobra em referência, falta em consistência narrativa: se existe algo de realmente bom na produção, isso se deve ao fato de personagens secundários de empatia imediata - tomaria como maior exemplo o amigo de Portugal, Fábio (Fábio Lucindo) - que detêm o melhor do texto de Rafael Gomes, com sequências bem humoradas e inteligentes. Na contramão do roteiro, está um protagonista vazio e que não tem muito a dizer. O drama gay dos mesmos produtores 'Hoje Eu Quero Voltar Sozinho' (2014), pode acertar na forma e na linguagem moderna, mas erra na sua razão de ser: um roteiro que tenha algo de realmente novo pra contar.
Vale Ver Mas Nem Tanto !
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