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PiTacO do PapO - 'Como é Cruel Viver Assim' | 2018

NOTA 8.0

Por Rogério Machado

Júlia Rezende é sem dúvida alguma uma das profissionais mais prolíficas da nova geração de cineastas no Brasil. Como poucos, ela entende bem a linguagem que pretende usar numa determinada produção e é fiel à proposta. Seja na comédia rasgada ('De Pernas pro Ar 3' -2019), romântica ('Ponte Aérea' - 2014) ou ainda na comédia de erros como é caso de 'Como é Cruel Viver Assim', que passou pelos cinemas no ano passado, Júlia imprime sua marca descolada e pop sem economizar no esteriótipo - o que pra mim se torna um dos grandes acertos desse projeto em específico. 


Na trama Marcelo Valle é Vladimir, que está desempregado e perdido na vida, tentando pegar um táxi para ganhar uns trocados, ele vai entrando em desespero cada vez que escuta sua mulher, Clívia (Fabiula Nascimento), dizer que sonha com uma linda festa de casamento. Eis que surge Regina (Debora Lamm), uma amiga do casal, que propõe um plano: sequestrar seu ex-patrão, riquíssimo. Regina trabalhou na casa dele quatro anos como babá e sabe de cor todos os detalhes de sua rotina. Então, Vladimir resolve arriscar tudo e acha que essa é sua grande oportunidade de realizar algo grandioso e se sentir respeitado pela primeira vez na vida. Ele convida Primo (Silvio Guindane), um amigo mais enrolado do que ele, para completar o time. Enquanto tomam as providências práticas, revelam-se suas frustrações, ambições e pela inexperiência, claro, o medo.

A premissa é simples. Afinal, um grupo de pessoas comuns e sem histórico criminal que resolvem, em função de uma vida desgraçada (daí o título) tentar sucesso no mundo da bandidagem, já foi apresentada inúmeras vezes no mundo da ficção. Mas o que torna a obra de Júlia um ponto fora da curva é seu natural toque de midas na direção de seus atores. Ela pesa a mão nos esteriótipos de cada um desses personagens e usa isso em favor da trama que mesmo sem apresentar ineditismo, é construída com originalidade. A ideia do absurdo de algumas situações reforçam a porção comédia da produção, mas ao mesmo tempo se divide com competência entre a ironia e o drama. 

Essa dicotomia, não só na proposta ao publico como na temática em si, é salutar ao desenvolvimento e também provoca um questionamento natural que todos nós já nos fizemos um dia:  será que o crime compensa? A ideia de uma vida fácil é atraente, mas os meios para isso valem o risco? Pode parecer clichê, mas a direção requintada aliada à fotografia de Dante Belluti, que traduz fielmente a realidade daquele contexto, fazem de 'Como é Cruel Viver Assim' um dos mais felizes trabalhos do cinema nacional do ano passado. 



Vale Ver !


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