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PiTacO do PapO - 'Era Uma Vez em ... Hollywood' | 2019

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 


Do alto de seus nove filmes (sem contar os projetos em parceria) e quase 30 anos de carreira , Quentin Tarantino está num patamar que já pode se dar ao capricho de subverter a própria vertente. Pode ser que o amadurecimento o tenha transformado em  um cineasta mais comedido ou muito menos voraz de uns tempos pra cá, mas é certo que um cinema autoral sempre será uma de suas mais fortes características. A atenção aos personagens e ao texto é patente em seus últimos projetos:  de 'Bastardos Inglórios' (2009) até seu trabalho antecessor , 'Os Oito Odiados' (2015), a trajetória das figuras de suas histórias são mais valorizadas e trabalhadas do que propriamente o ritmo frenético ou  a violência gráfica que lançou luzes sobre o inventivo diretor. 


'Era Uma Vez em...Hollywood', aguardado novo trabalho desse invejável mestre cult e pop na mesma medida, Tarantino deixa claro que sua marca registrada pode ter um novo registro, e que sua câmera pode estar a serviço do todo, ao invés de dar foco àquilo que um dia fez dele o profissional que ele é hoje. Essa desconstrução será notada por todos, e talvez - em especial nesse novo trabalho - sentida sobremaneira pelos fãs mais fervorosos daquele cinema debochado e violento sem o mínimo de escrúpulo, que desconhece o medo do mal gosto. 

A trama revisita a Los Angeles de 1969 onde tudo estava em transformação, através da história do astro de tevê Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e seu dublê e também uma espécie de secretário particular de longa data, Cliff Booth (Brad Pitt), que traçam seu caminho em meio à uma indústria que nem eles mesmo reconhecem mais. Bem ali ao lado da casa de Dalton, num condomínio privilegiado, um casal apaixonado, Sharon Tate (Margot Robbie) e Roman Polanski (Rafal Zawieruchaentrava)  participavam das festas mais badaladas de Hollywwod. Sharon viria a ficar grávida, e com o marido sempre trabalhando em filmagens fora do país, ela, uma atriz desconhecida,  ficaria mais livre para levar sua beleza para passear pela cidade ou pegar uma sessão no cinema mais próximo, onde ela também estava no elenco.

O roteiro discorre sob a perspectiva desses três personagens: Dalton, um ator em plena ascensão mas que acredita ser uma fraude. Di Caprio encarna aqui um de seus melhores personagens; o tipo decadente e instável caiu como uma luva no tom cômico que o ator deu pra seu personagem, e o resultado, como já esperado, foi o de dominar e roubar cenas sem o mínimo de esforço. O Cliff Booth de Pitt é também uma grata surpresa - junto com Mike Moh (no papel de Bruce Lee na trama), ele protagoniza uma das sequências mais hilárias ao longo da projeção. E por último, a Sharon Tate de Robbie, uma atriz que marca pela presença , mas que aqui não teve o espaço necessário para brilhar.  Ao contrário do que muitos pensam, a história da modelo e atriz que foi vítima de um assassinato brutal,  em 'Era Uma Vez em...Hollywood' ganha contornos diferentes mas não menos criativos. A escolha de Tarantino em não contar a trama como todo mundo conhece é assertiva, mas que necessariamente tira o foco dessa personagem. 

É bem verdade que talvez seja um tanto exagerado dizer que 'Era Uma Vez em...Hollywood' é muita fumaça para pouco fogo, a nova viagem do engenhoso mestre continua sendo emblemática como seus filmes anteriores, mas com ressalvas a se fazer sobre o desenvolvimento: há nítidas quedas de ritmo, principalmente por dar muita Ãªnfase à carreira do ator Rick Dalton (que lembrando, é um personagem fictício nesse universo que mistura fantasia e realidade), mas nem pelos momentos, digamos, menos brilhantes, o longa consegue desperdiçar o carisma dado à cada peça que compõe esse imenso tabuleiro criado pelo visionário cineasta.

'Era Uma Vez em...Hollywood' é  ácido. É cult. Ã‰ pop. A linguagem de Tarantino ainda guarda com precisão seus traços marcantes , mas se contextualiza em outros pontos que podem ser decisivos aos fãs mais ardentes. Seja o que for, ainda sim é seu criador em plena forma e uma bela homenagem ao cinema e a tudo que transita ao seu redor. 


Vale Ver !



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