PiTacO do PapO - 'Parasita' | 2019
NOTA 9.0
Por Sérgio Ghesti @meuhype
O cinema oriental tem despontado de tempos pra cá e conquistado os principais festivais pelo mundo. Depois do japonês "Assunto de FamÃlia" e do sul-coreano "Em Chamas" (dois grandes destaques de 2018), "Parasita" já chegou em Cannes esse ano gerando grande expectativa, também por ser o mais recente filme de Bong Joon-Ho, um realizador com obras cada vez mais interessantes e aclamadas: em 2006 apresentou "O Hospedeiro", um dos destaques do ano e já em 2013 o diretor brilhava nos EUA dirigindo o ótimo "O Expresso do Amanhã". Em 2017 produziu para a Netflix o polêmico "OKJA", que esbarrou no preconceito de ser uma produção direta da plataforma de streaming e recebeu protestos em vários festivais por onde passou, além de pegar pesado na questão ambiental e animal.
O certo é que o diretor coreano tem a esperteza necessária para realizar um cinema que busca se integrar com temas atuais sem ser banal. A prova maior de seu talento é retornar de Cannes esse ano com o prêmio máximo, a Palma de Ouro, com a produção que em breve deverá ser lançada nos cinemas do Brasil. O filme é um drama familiar tingido de thriller, que retrata a violência das desigualdades sociais com domÃnio total sobre o expectador ao contar a história de uma famÃlia de desempregados que vivem em um escuro e imundo apartamento no subsolo de uma cidade, onde convivem com baratas e um mendigo urinando em sua janela. A vida da famÃlia Ki-Taek, muda quando o garoto Ki-Woo consegue um emprego como professor particular de inglês de uma jovem de famÃlia rica, os Park. Eles vivem em uma casa suntuosa com um grande jardim, janelas de vidro e decoração de bom gosto. A famÃlia Ki-Taek rapidamente se aproveita da situação: por meio de subterfúgios, Ki-Woo faz sua irmã ser contratada para dar aulas de desenho ao filho mais novo, depois seus pais como motorista e governanta.
Mas, se tudo parece correr bem para a famÃlia de golpistas, a chegada dos "parasitas" à famÃlia Park marcará o inÃcio de um movimento incontrolável. Com a história, Bong Joon-Ho, deixa para trás o universo fantástico e os grandes orçamentos internacionais de seus últimos filmes para investir em uma história mais intimista. O diretor apresenta um olhar onde flerta com o suspense e também com as relações sociais para transmitir uma mensagem sobre desigualdades sociais e as consequências do fluxo descontrolado da ostentação. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos os envolvidos. Parece que Bong fundiu muitos tópicos de temas anteriores em um só, sua construção, empática por seus personagens, apresenta um realismo cheio de camadas aonde todas as caracterÃsticas se misturam - o bem, o mal, o excêntrico e o simples - componentes esses que colocam o cineasta no patamar de grandes diretores.
Seu filme apresenta um senso diabólico de humor que choca e questiona a moral desenhando dois espaços domésticos em um relevo de concepções. A casa dos Park é uma maravilha arquitetônica modernista; somos repetidamente informados de que seu criador também era seu ex-morador. A estrutura é uma construção angular de concreto e madeira com todas as comodidades e modernidades. A luz do sol entra através de enormes janelas que se abrem para o quintal meticulosamente mantido, e árvores podadas artificialmente isolam a habitação da visão do mundo. A complexidade do domicÃlio também permite a inventiva encenação através de vários planos de ação, ambientando no espaço um dos momentos mais tensos da história em seu clÃmax. Por outro lado, a favela da moradia de subsolo em que os Kims residem é degradada, praticamente caindo aos pedaços, e com várias situações curiosas, como quando os jovens buscam o sinal Wi-Fi dos vizinhos ou quando um caminhão lança fumaça de dedetização de insetos.
Ao longo de seu tempo de execução, "Parasite" (tÃtulo comercial do longa) processa as classes e associa sua história por meio da perspectiva de distância entre as famÃlias e as hierarquias. O diretor trabalha muito bem o glamour em volta da famÃlia rica e muitas vezes usa sua veia caricata nos "ataques belos de vida" da famÃlia pobre, a cada vitória dos mesmos. Ao público, ainda sobram surpresas durante a trama e uma parte final arrepiante, em uma história que coloca ambas as famÃlias em pé de igualdade flertando com a tecnologia, o humor tragicômico e sagaz na medida certa, mesmo que no fim das contas se resulte em um final com uma lição aparentemente triste no que tange ao reflexo social.
O certo é que o diretor coreano tem a esperteza necessária para realizar um cinema que busca se integrar com temas atuais sem ser banal. A prova maior de seu talento é retornar de Cannes esse ano com o prêmio máximo, a Palma de Ouro, com a produção que em breve deverá ser lançada nos cinemas do Brasil. O filme é um drama familiar tingido de thriller, que retrata a violência das desigualdades sociais com domÃnio total sobre o expectador ao contar a história de uma famÃlia de desempregados que vivem em um escuro e imundo apartamento no subsolo de uma cidade, onde convivem com baratas e um mendigo urinando em sua janela. A vida da famÃlia Ki-Taek, muda quando o garoto Ki-Woo consegue um emprego como professor particular de inglês de uma jovem de famÃlia rica, os Park. Eles vivem em uma casa suntuosa com um grande jardim, janelas de vidro e decoração de bom gosto. A famÃlia Ki-Taek rapidamente se aproveita da situação: por meio de subterfúgios, Ki-Woo faz sua irmã ser contratada para dar aulas de desenho ao filho mais novo, depois seus pais como motorista e governanta.
Mas, se tudo parece correr bem para a famÃlia de golpistas, a chegada dos "parasitas" à famÃlia Park marcará o inÃcio de um movimento incontrolável. Com a história, Bong Joon-Ho, deixa para trás o universo fantástico e os grandes orçamentos internacionais de seus últimos filmes para investir em uma história mais intimista. O diretor apresenta um olhar onde flerta com o suspense e também com as relações sociais para transmitir uma mensagem sobre desigualdades sociais e as consequências do fluxo descontrolado da ostentação. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos os envolvidos. Parece que Bong fundiu muitos tópicos de temas anteriores em um só, sua construção, empática por seus personagens, apresenta um realismo cheio de camadas aonde todas as caracterÃsticas se misturam - o bem, o mal, o excêntrico e o simples - componentes esses que colocam o cineasta no patamar de grandes diretores.
Seu filme apresenta um senso diabólico de humor que choca e questiona a moral desenhando dois espaços domésticos em um relevo de concepções. A casa dos Park é uma maravilha arquitetônica modernista; somos repetidamente informados de que seu criador também era seu ex-morador. A estrutura é uma construção angular de concreto e madeira com todas as comodidades e modernidades. A luz do sol entra através de enormes janelas que se abrem para o quintal meticulosamente mantido, e árvores podadas artificialmente isolam a habitação da visão do mundo. A complexidade do domicÃlio também permite a inventiva encenação através de vários planos de ação, ambientando no espaço um dos momentos mais tensos da história em seu clÃmax. Por outro lado, a favela da moradia de subsolo em que os Kims residem é degradada, praticamente caindo aos pedaços, e com várias situações curiosas, como quando os jovens buscam o sinal Wi-Fi dos vizinhos ou quando um caminhão lança fumaça de dedetização de insetos.
Ao longo de seu tempo de execução, "Parasite" (tÃtulo comercial do longa) processa as classes e associa sua história por meio da perspectiva de distância entre as famÃlias e as hierarquias. O diretor trabalha muito bem o glamour em volta da famÃlia rica e muitas vezes usa sua veia caricata nos "ataques belos de vida" da famÃlia pobre, a cada vitória dos mesmos. Ao público, ainda sobram surpresas durante a trama e uma parte final arrepiante, em uma história que coloca ambas as famÃlias em pé de igualdade flertando com a tecnologia, o humor tragicômico e sagaz na medida certa, mesmo que no fim das contas se resulte em um final com uma lição aparentemente triste no que tange ao reflexo social.
Super Vale Ver !
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