PiTacO do PapO - 'Azougue Nazaré' | 2019
NOTA 7.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
Em seu longa de estreia o diretor Tiago Melo dá vazão ao desejo de homenagear Nazaré da Mata, uma pequena cidade pernambucana. Tendo essa premissa, portanto, é imprescindível recorrer à essência local. As manifestações consideradas baseiam-se principalmente no maracatu e a mais recente onda evangélica pentecostal. Definidos os dois principais objetos, é de se esperar que a narrativa tramite entre os conflitos naturais entre a tradição popular e os preceitos cristãos.
Não seria absurdo afirmar que é possível enxergar nessa obra traços dos recentes "Divino Amor" e "Bacurau". A primeira referência por conta da exposição crítica da religiosidade, que por vezes oferece uma verdade intransigente e questionável por depender de interpretações humanas. E a segunda pela ânsia de trazer a público a cultura nordestina interiorana. Esse é o tipo de filme onde é nítido que a vontade de fazer supera a falta de incentivos. Atores e figurantes se revezam entre a atuação e produção, o resultado é uma visão apaixonante e cristalina sobre o que é viver no interior de uma cidade nordestina. No elenco destaca-se Valmir do Côco no papel de Catita. Extremamente à vontade e persuasivo.
Por abraçar a missão da homenagem local, a exposição do maracatu não foi suficientemente contagiante. Sabe-se que esse é um ritmo que exala musicalidade, cores e gestos; essa manifestação cultural oferece mais do que o potencial demonstrado, tanto da pura exposição, como da inserção narrativa funcional. A fluidez também ficou comprometida pela inserção de elementos e personagens que, apesar de fornecerem contexto local, não evoluem com as principais tramas paralelas. Um exemplo são as breves e estéreis investidas nos conflitos do chaveiro da cidade e sua mulher, pouco agregam ao todo.
Filme bem dirigido que segue um padrão bastante ágil de enquadramentos e recortes, o diretor parece não ter sentido o peso da estreia. Vale para entender mais um pouco do Brasil.
Vale Ver !
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