Adsense Cabeçalho

PiTacO do PapO - 'Judy: Muito Além do Arco-Íris' | 2019

NOTA 9.0

Solitária voz

Por Rogério Machado 

Se não me falha a memória, 'O Mágico de Oz' (1939) está entre os primeiros filmes que me introduziram à magia do cinema. Me lembro, ainda menino, do medo que sentia com a aparição da Bruxa do Oeste e do Mágico. Me lembro também como era encantador ver os sapatinhos vermelhos rubi de Dorothy Gale baterem uns nos outros enquanto ela fazia um pedido. Ao assistir 'Judy: Muito Além do Arco Íris', muitas coisas me vieram à mente, mas uma pergunta incomoda: como, por vezes, a fama pode ser tão cruel?  Qual o preço a ser pago para se tornar uma estrela? Não tenho dúvidas de que a direção de Rupert Goold (do ótimo 'A História Verdadeira' - 2015) propositalmente coloca sua obra não propriamente no lugar comum de uma cinebio, mas de um drama que anseia chamar a atenção para o que a fama pode fazer com alguém. 


A trama mostra a última jornada de Judy Garland (Renée Zellweger) , vivendo seu último romance e casamento com Mickey Deans (Finn Wittrock) , e também a sua rotina extremamente pesada, que levou a artista à exaustão, já que relatos apontam que ela não teve folga desde a infância. Em 1968, durante o período do inverno, a cantora estava em baixa e de certa forma desmoralizada com sua carreira na América, foi quando Judy recebeu uma proposta que poderia ser bastante oportuna: ela foi convidada a estrelar uma turnê em Londres, já que era ainda muito popular entre os ingleses.  Mas por conta disso ela deveria ficar afastada de seus filhos, que ficaram com o pai, Sidney Luft (Rufus Sewell). O fato fez com que Judy ficasse solitária em pleno inverno europeu, e a iminente incapacidade de cuidar dos filhos,  levou a cantora a ter problemas com álcool e remédios, foi quando a artista resolveu compensar seus problemas pessoais com uma intensa dedicação ao palco.   

Não daria pra falar de 'Judy' sem mencionar o minucioso trabalho de composição de personagem (ou personalidade, melhor dizendo) executado com tamanha riqueza de detalhes que só uma grande estrela seria capaz de fazer:  o olhar perdido - no palco ou fora dele - , o gestual, a postura curvada, e a maneira como coloca a entonação de voz e sotaque (já que sempre manteve seus traços interioranos) são um deleite principalmente para quem aprecia o trabalho de ator. Em se tratando de uma personalidade tão emblemática como Garland, é mesmo recompensador ver um trabalho assim ganhar forma pelas mãos talentosas de Zellweger. Vale lembrar que a atriz ainda canta, ou seja, não é dublagem quando a vemos em cena performando 'Get Happy' ou a clássica 'Somewhere Over  The Rainbow'. 

Enquanto cinebio, é possível que a produção não impressione ao fãs mais exigentes por deixar muitas informações do lado de fora do roteiro, mas isso não chega a ser um problema. É como citei anteriormente: 'Judy' pretende ser muito mais do que uma cinebio, é uma comédia dramática com um personagem real que alfineta a ditadura da perfeição no meio artístico e que ainda por cima deixa algumas lições acerca disso. Seja com a intenção de ser episódico na vida de uma das maiores estrelas que o mundo já viu, ou simplesmente pra preencher a cota de longas feitos para serem premiados pela Academia , 'Judy' merece  nossa atenção. 


Super Vale Ver !


Nenhum comentário