PiTacO do PapO - 'O Paraíso Deve Ser Aqui' | 2019
NOTA 7.0
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
Elia Suleiman dirige e canaliza a atuação do longa "O Paraíso Deve Ser Aqui". O diretor-ator incorpora, além dessas funções, os sentimentos que a Palestina enraíza no seu psicológico. Suleiman abandona sua terra natal, aquela geradora de feridas ainda abertas, em busca de conforto além do que o Oriente Médio pode oferecer. Os potenciais abrigos são sensivelmente distintos e separados pelo Atlântico, a investida vai de Paris à Nova York. Mas, a persistência das lembranças das origens permanecem intactas, seja o ambiente fluente em francês ou inglês.
O longa de Suleiman tem uma função humanitária imediata, não à toa recebeu o "Prêmio Humanidade" na Mostra de SP em 2019. As lembranças que perseguem o protagonista não são românticas, mas repetidamente lembram dos abusos aos quais os palestinos são submetidos. Não há descompressão geográfica capaz de aliviar o trauma da atmosfera de terror, nem o romantismo de Paris, nem a internacionalidade de Nova York. Para essa representação Suleiman não se apega a linearidades, a construção narrativa remonta a aglomeração de sentimentos espontâneos. O resultado é o encadeamento de cenas como ações banais da polícia, demonstrações de força militar exagerada e protestos apelativos por parte da população. Portanto, também há naturalmente um desprendimento da lógica mecânica em favor da incursão no imaginário do que representa a violência palestina.
A fórmula dramática, quando aciona o protagonista, se embasa na apatia de quem já está habituado com o que poderia ser considerado absurdo. O recurso propositalmente não só sensibiliza, como adiciona boas doses de humor frente a indiferença bem expressa no semblante de Suleiman para as mais variadas situações bizarras.
A proposta é interessante de início, mas apresenta um desgaste considerável. Os "carões" feitos pelo personagem não surtem o mesmo efeito do meio para o final do filme, o cenário muda, a fórmula se repete. Além disso considero que a execução da exportação da tragédia palestina pode ser confundida com críticas a instituições entendidas como repressivas como a Polícia e o Exército. Isso porque, entre as escolhas feitas para representar a coletânea do imaginário, esses são exemplos recorrentes.
Vale Ver !
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