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'A Chance de Fahim' - Roteiro peca em se agarrar somente à jornada | 2020

NOTA 6.5


Por Rafael Yonamine @cinemacrica

Os conflitos na Bangladesh atual associados à privação financeira tornam o país num fácil ambiente de êxodo. A família de Fahim, garoto que sequer chegou aos 12 anos de idade, compartilha dessa realidade. Junto de seu pai, um civil já observado pela polícia local, Fahim foge para Paris deixando mãe e irmãos para trás. A esperança reside na habilidade incomum do garoto no xadrez. Após matricular-se num clube infantil de enxadristas, inicia-se a relação com o professor Sylvain (Gérard Depardieu), responsável pelo aperfeiçoamento técnico e inserção do pupilo em campeonatos nacionais.


A proposição de que estamos diante de uma típica jornada de superação não demora a acontecer. Contextualiza-se rapidamente a desenvoltura no xadrez e a condição econômica desfavorável do protagonista: sem elementos reveladores criativos para a habilidade, sem sensibilidade notável para a denúncia social. Logo se percebe que o todo fica refém de um roteiro que agarra com as duas mãos a fixação  apenas na jornada. Considere, por exemplo, que o processo migratório internacional não investe 1 minuto sequer na digestão do drama, tanto do ponto de vista individual do pai e do filho, como também e, mais gravemente, do não compartilhamento mútuo daquela angústia. A preocupação recai em encadear cenários e nos convencer da obviedade de que utilizaram diferentes meios de transportes percorrendo uma variedade de paisagens para chegar ao destino final.

Aliás, a negligência de tudo o que circunda esse núcleo, que é claramente a jornada do herói mirim, não se restringe à abdicação da auto-reflexão do protagonista e o aprofundamento da sua relação com o pai. Mas o tato humano, desde potenciais lembranças da família abandonada como o novo círculo social, é absolutamente anêmico. A proposta maior poderia continuar residindo no processo de superação, mas haveria espaço para enriquecimentos e fuga do óbvio. O longa, ao invés disso, envereda pela inserção de clichês e na aposta de que o surgimento de um prodígio improvável bastaria.


Vale Ver Mas Nem Tanto !



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