Quando a fantasia é funcional, o esforço da imaginação é recompensador. Permita-se à experimentação em "Antologia da Cidade Fantasma" | 2020
NOTA 8.0
A subjetividade artística, na qual previsivelmente incluo a cinematográfica, é inegavelmente viva. A ambiguidade ou a simples manifestação de preferências tornam-se ainda mais instáveis quando o artista se engaja em proposições desvinculadas do que estamos habituados. Na pintura, digerir o primeiro quadro de Picasso não deve ter sido algo trivial; no cinema, o mesmo deve ter ocorrido com Godard. Ou seja, o flerte com vanguardas ou simplesmente com o desconhecido pode gerar desconforto, mas é no mínimo oportuno abrir-se. Quem sabe um novo olhar para a arte possa suceder um passo de tolerância.
Por Rafael Yonamine @cinemacrica
A subjetividade artística, na qual previsivelmente incluo a cinematográfica, é inegavelmente viva. A ambiguidade ou a simples manifestação de preferências tornam-se ainda mais instáveis quando o artista se engaja em proposições desvinculadas do que estamos habituados. Na pintura, digerir o primeiro quadro de Picasso não deve ter sido algo trivial; no cinema, o mesmo deve ter ocorrido com Godard. Ou seja, o flerte com vanguardas ou simplesmente com o desconhecido pode gerar desconforto, mas é no mínimo oportuno abrir-se. Quem sabe um novo olhar para a arte possa suceder um passo de tolerância.
"Antologia da Cidade Fantasma", apesar de não usar alavancas puramente originais, pode ser uma proposta que vá de encontro à experimentação da instabilidade conceitual caso esse não seja um terreno que esteja habituado a visitar. Logo de início tem-se uma câmera estática à beira da estrada que registra um carro que violentamente desvia da rota e colide num muro. Óbito imediato. O desconforto inicial é perene. Isso porque a exposição banal do luto é sobreposta por algo muito mais interessante: o impacto que a fatalidade tem sobre a comunidade a qual pertencia o jovem que falecera.
Não se sabe ao certo as motivações do acidente, o diretor Denis Côté provocativamente se apega à originalidade e encabeça uma narrativa que, por exemplo, se exime de registrar um policial sequer. O clichê das delegacias migra para a sala da prefeita, que mais poderia ser uma xerife dada a abrangência do escopo. Essa figura, inclusive, é chave para a construção do senso de comunidade auto-suficiente que Côté busca promover.
Delimitado o microambiente, Côté esmiúça o psicológico dos personagens sob a perspectiva da assimilação ou sequelas causadas pelo acidente inicial. Portanto, não espere caminhos lógicos de aprofundamento, pois o objeto a ser construído é uma bela colcha de retalhos de percepções individuais. Não espere também a lógica mecanicista, o íntimo do ser humano é explorado com uma criativa permissividade fantasiosa. Afinal, porque não imaginar?
Vale Ver !
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