Drama e mistério em 'O Rouxinol' | 2019
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
A jovem cineasta australiana Jennifer Kent teve uma estreia de alto nível no cinema. 'Badadook', um inventivo horror que ganhou grande parte da crítica e dividiu o público, definitivamente abriu caminhos para sua mais nova ousadia. Em 'The Nightingale' (ou em livre tradução, 'O Rouxinol') , a diretora não economiza na violência gráfica com alto teor de feminismo. Tanto que o filme, que estreou no Festival de Sidney, causou as mais diversas reações: de fúria à ojeriza, de repulsa até as defesas mais calorosas. O filme ainda segue sem previsão de estreia no Brasil.
A trama que se passa durante a colonização da Austrália em 1825, acompanha Clare (Aisling Franciosi), uma condenada irlandesa de 21 anos de idade. Depois de cumprir sua sentença de 7 anos, ela está desesperada para se libertar de seu senhor abusivo, o tenente Hawkins (Sam Clafin), que se recusa a libertá-la de sua acusação. O marido de Clare, Aidan (Damon Harriman), retalia e ela se torna vítima de um crime angustiante nas mãos do tenente e de seus companheiros. Quando as autoridades britânicas não cumprem a lei, Clare decide perseguir Hawkins, que deixa seu cargo repentinamente para garantir uma capitania no norte.
Durante seu caminho até a vingança, Clare cruza com o aborígene Billy (Baykali Ganambarr), que promete a levar até seu destino em troca de 2 xelins. Billy carrega consigo o estigma da escravidão e da morte de seus antepassados, e à medida que seus passos avançam em relação ao objetivo de Clare, um elo forte surge entre eles e esse alvo de vingança passa a ser de ambos. Somente por essa representatividade a produção já ganha muitos pontos: uma mulher sem nada a perder e um negro praticamente na mesma condição, exprimem a resistência à supremacia branca, ao machismo e tantas outras disfunções sociais. Se Kent não pensou em um filme político, inevitavelmente ela o fez com boas doses para ótimas discussões.
E por falar em Jennifer Kent, é preciso dizer que a cineasta não proporciona um filme fácil. Não há refrescos, momentos felizes são inexistentes, só há espaço para a dor da protagonista e seu foco na vingança. Ainda nos minutos iniciais, presenciamos a dois momentos de estupro e a mortes chocantes, e cenas fortes se repetirão ao longo da projeção sem a menor cerimônia. Mesmo com um caminho narrativo que não deve agradar a todos, o filme tem verdade e coerência dentro do tema explorado.
O único problema que se intensifica da metade para o final, é o ritmo arrastado. Os momentos de silêncio e contemplação se repetem, o que invariavelmente fazem com que todo o impacto inicial perca a força. De todo jeito, por tudo que observei nesse texto , além de uma caprichada fotografia, que inclui um formato de tela 4:3 e as atuações irrepreensíveis de todo o elenco, com destaque para o protagonismo da ainda não popular Aisling Franciosi (vista anteriormente em GOT), a projeto tem seu valor e merece atenção.
Vale Ver !
Durante seu caminho até a vingança, Clare cruza com o aborígene Billy (Baykali Ganambarr), que promete a levar até seu destino em troca de 2 xelins. Billy carrega consigo o estigma da escravidão e da morte de seus antepassados, e à medida que seus passos avançam em relação ao objetivo de Clare, um elo forte surge entre eles e esse alvo de vingança passa a ser de ambos. Somente por essa representatividade a produção já ganha muitos pontos: uma mulher sem nada a perder e um negro praticamente na mesma condição, exprimem a resistência à supremacia branca, ao machismo e tantas outras disfunções sociais. Se Kent não pensou em um filme político, inevitavelmente ela o fez com boas doses para ótimas discussões.
E por falar em Jennifer Kent, é preciso dizer que a cineasta não proporciona um filme fácil. Não há refrescos, momentos felizes são inexistentes, só há espaço para a dor da protagonista e seu foco na vingança. Ainda nos minutos iniciais, presenciamos a dois momentos de estupro e a mortes chocantes, e cenas fortes se repetirão ao longo da projeção sem a menor cerimônia. Mesmo com um caminho narrativo que não deve agradar a todos, o filme tem verdade e coerência dentro do tema explorado.
O único problema que se intensifica da metade para o final, é o ritmo arrastado. Os momentos de silêncio e contemplação se repetem, o que invariavelmente fazem com que todo o impacto inicial perca a força. De todo jeito, por tudo que observei nesse texto , além de uma caprichada fotografia, que inclui um formato de tela 4:3 e as atuações irrepreensíveis de todo o elenco, com destaque para o protagonismo da ainda não popular Aisling Franciosi (vista anteriormente em GOT), a projeto tem seu valor e merece atenção.
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