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'Belas Promessas' : longa estrelado por Isabelle Huppert discute a ética nos bastidores políticos | 2023

NOTA 6.0

Cumpra a sua palavra!

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme 

O termo "política", numa das acepções cunhadas por Aristóteles, seria a ciência que tem como objetivo a felicidade humana. Ainda de acordo com o filósofo grego, tal felicidade estaria na harmonia entre a ética – que se preocupa com a felicidade individual do cidadão na pólis – e a política propriamente dita, cujas preocupações estão ligadas à obtenção da felicidade coletiva. E “Belas Promessas”, longa que chegou aos cinemas nesta última quinta-feira, coloca em pauta as engrenagens políticas francesas tendo justamente como cerne os conflitos entre os interesses privados e públicos.

Na trama, Isabelle Ruppert interpreta Clémence Collombet, ex-médica e prefeita de uma cidade empobrecida nos arredores de Paris. Honesta e competente, ela está à espera da aposentadoria quando um convite para assumir um ministério abala suas certezas e a coloca no meio de imbróglio envolvendo os moradores de um conjunto habitacional. A partir deste dilema que coloca sua ambição profissional e o seu discurso – chama a atenção a importância dada à palavra aqui – em situações capazes de alterar a vida de centenas de pessoas, somos chamados a refletir, dada a recorrente alternância de posicionamentos que vemos em tela, sobre as inúmeras falsas promessas que cansamos de ouvir sempre que chega o período eleitoral.  

Ruppert está competente como de costume, mas sua personagem carece de camadas que possam torná-la mais complexa e envolvente, tendo sua vida particular, por exemplo, tratada de forma bastante superficial pelo roteiro assinado pelo diretor Thomas Kruithof em parceria com Jean-Baptiste Delafon. E é exatamente por conta desse maior aprofundamento das motivações que levam às ações, que seja possível eleger como grande destaque da narrativa a figura de Yazid Jabbi, chefe de gabinete da prefeita. Na identificação que demonstra com moradores do lugar, algo que remete ao seu passado, e a atuação de Reza Kateb que, por vezes, traz o olhar amargurado e a postura determinada que lembram alguns dos grandes detetives do cinema noir, temos os maiores acertos de um filme que, infelizmente, apenas tateia problemas cruciais na sociedade francesa como programas de moradia para imigrantes.   

Obra que se propõe a mostrar os bastidores do jogo político, deixando evidente como certas decisões dependem bem mais da boa vontade do que da competência (ou da idoneidade) dos representantes eleitos pelo povo, “Belas Promessas”, mesmo através de um tom moderado demais para os temas que suscita, é capaz de fortalecer a importância de nossas escolhas e de uma postura mais ativa por parte de quem é pago para trabalhar em prol do bem comum. E, enquanto não conseguirmos equacionar de uma maneira mais consciente interesses privados e públicos, aquela tal felicidade ampla sobre a qual versava o grande Aristóteles será para sempre uma utopia. 








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