'Mass' : com sublime atuação de veteranos, longa é sobre a dor que pais jamais deveriam sentir I 2022
NOTA 8.5
Por Eduardo Machado @históriadecinema
Montando uma sala para uma reunião em uma pequena igreja, os funcionários da paróquia estão nervosos. As cadeiras estão no lugar certo? E os petiscos? Quem será que eles receberão? Dois educados casais americanos de meia-idade chegam e, então, trocam gentilezas. Uma mulher (Ann Dowd) trouxe para outra (Martha Plimpton) um pequeno arranjo de flores feito à mão. O silêncio e o constrangimento tomam o pequeno recinto e só entendemos a razão, quando finalmente descobrimos que o que conecta aquele casal é uma tragédia.
Jay (Jason Isaacs) e Gail Perry (Plimpton) são pais de luto pela morte de seu filho dentro da escola, morto por um colega. Richard (Reed Birney) e Linda (Dowd) são os pais do atirador que também morreu naquele dia. Seis anos após a tragédia, os casais concordam em participar de uma conversa cujo objetivo é amainar o luto, mas velhas feridas são reabertas.
Praticamente todo filmado dentro de um mesmo recinto, o diretor Fran Kanz opta por uma abordagem minimalista, que afasta o longa de filmes como “Precisamos falar sobre Kevin”, que também aborda as consequências do crime na vida dos pais, mas, no caso de “Mass”, não interessa detalhar o passado, mas apenas como enfrentá-lo. O passado existe e é importante entender como andar para frente.
“Mass” tem um trabalho de câmera discreto que nos dá a sensação de espionar o encontro. Todos os quatro protagonistas entregam performances exuberantes, cada um a seu modo: com Gail de Plimpton quase paralisada por anos de luto; Jay de Isaac transbordando de raiva; Linda de Dowd desesperada para fornecer algum conforto a todos; e Richard de Birney sinceramente arrependido. As famílias, ali, acabam formando um vínculo provisório, talvez fugaz, em razão da perda que sofreram. Mas Kranz também é sábio o suficiente para sugerir que algumas feridas psicológicas são irreparáveis.
O filme é bastante sóbrio, portanto, não há espaço para vilões, vítimas e mocinhos, nem mesmo para moralismos de qualquer espécie. Logo, emblemático, que um filme desse naipe seja rodado dentro de uma igreja, pois nem mesmo os santos curam tamanha dor.
Angustiante e difícil de digerir, “Mass” poderia ser uma peça de teatro formidável, tanta é a qualidade do roteiro executado pelos artistas. Como cinema, entretanto, não deixa de ser um primor.
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