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'O Urso do Pó Branco' : longa diverte, mas falha ao não abraçar a galhofa | 2023

NOTA 5.0 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Existem muitas tentativas de definir ou compreender o cinema trash, muito embora a maioria delas nem arranhe a superfície. Orçamento limitado, premissas absurdas, humor negro e violência gráfica frequentemente são características associadas ao subgênero e de fato são aspectos comuns à maioria das produções, porém nem de longe são exclusividade dessa vertente “underground” e, portanto, seria equivocado categorizá-lo sob esses parâmetros. Talvez o mais próximo que tenhamos de particular nessa forma de expressão está na maneira única com que ele dialoga com o vulgar, o grotesco e principalmente com o ridículo. Não são características das mais nobres e é, em parte, o motivo pelo qual eles são encarados como projetos de menor relevância. Entretanto, verdadeiros ícones da indústria tiveram origem no trash, como Peter Jackson, Sam Raimi e José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão, figura emblemática e assim como a maioria dos nossos vanguardistas, tão cultuado no cenário externo quanto desprezado no interno.    

Em “O Urso do Pó Branco”, Elizabeth Banks se aproveita do seu excelente ‘timing’ cômico para levar às telas a curiosa história “baseada em fatos” envolvendo uma tentativa de tráfico de cocaína malsucedido que vai parar em “mãos” erradas, gerando tumulto e uma série de assassinatos na pequena cidade no interior da Geórgia. Sua vinculação com o trash é bem direta, contudo ela se mostra irregular pois, contrariando a própria lógica, por vezes a trama se leva a sério demais.   

Com o orçamento nada modesto de trinta milhões de dólares, o longa tem ótimos efeitos e esse mérito salta aos olhos não só no visual do urso, mas também nos momentos de maior violência, quando o sangue escorre com gosto e o “gore” domina a tela. A direção também opta pela sugestão em alguns ataques, todavia se trata de um artifício para aumentar a tensão já que o filme não faz mistério e o antagonista nos é apresentado logo nos primeiros minutos. A diretora tem uma carreira sólida na comédia e os momentos mais cômicos tem um toque de humor bastante peculiar que pode não agradar a todos, em especial quando envolve crianças, apelando inclusive ao politicamente incorreto.   

No elenco temos rostos conhecidos como o veterano Ray Liotta ('Bons Companheiros'), Jesse Tyler Ferguson ('Modern Family'), Christian Convery ('Sweet Tooth') e Brooklynn Prince ('Projeto Flórida'). Todos servem de alguma maneira para a narrativa andar, porém as tentativas de maior aprofundamento e apelo dramático destoam da proposta inicial, desviando o foco do que realmente interessa, afinal, para além de um urso chapado e sedento por sangue, não há muito o que se ver.  






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