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'O Exorcista do Papa' : Russell Crowe é destaque em história inspirada na vida do controverso padre Gabriele Amorth | 2023

NOTA 5.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Dentre as discussões a respeito da forma com a qual nos relacionamos com o cinema, ou com a arte em geral, há um equívoco bastante comum. Algo que não é novo, mas se acentuou em nossos tempos dado a velocidade com que as mudanças ocorrem, em especial em termos tecnológicos e científicos. Me refiro a interpretação ingênua e errônea da constante mudança como um progresso contínuo. É verdade que o sentimento de superação e libertação do artista para com as gerações anteriores é até certo ponto legítimo, porém, como uma vez disse Ernst Gombrich, um dos mais célebres historiadores da arte do século passado, “devemos compreender que cada ganho ou avanço em uma direção acarreta uma perda em outra, e que esse avanço subjetivo, apesar de importante, não corresponde a um incremento objetivo em valores artísticos”. Dito isso, “O Exorcista do Papa”, em uma premissa nada original, se pauta por referências a filmes que vieram muito antes dele, em maior proporção ao clássico de William Friedkin, “O Exorcista”, que este ano completa 50 anos e permanece como principal âncora para os longas sobre possessão demoníaca. No entanto, se meio século separam as duas obras, mais distante ainda está o talento de Julius Avery em comparação a Friedkin, e nem todo aparato tecnológico do maior dos estúdios de Hollywood é capaz de mudar esse fato.

A trama se passa na década de 80 e acompanhamos o padre Gabriele Amorth, exorcista-chefe do vaticano e, segundo reza a lenda, responsável por milhares de exorcismos durante seus 36 anos em atividade. Embora a figura de Amorth seja baseada em uma pessoa real, o evento retratado é inteiramente fictício e segue uma família americana que viaja até a Espanha para reformar uma antiga propriedade. O local esconde antigos segredos e o que parecia ser o início de uma nova vida, se torna um verdadeiro inferno quando o filho mais novo começa a apresentar comportamentos estranhos. 

A priori, falta de originalidade não é um problema. Já a ausência de personalidade é quase um pecado. Qual a diferença entre eles? Enquanto o primeiro é o reconhecimento de uma determinada fórmula que deu certo, o segundo se limita a mera repetição. Cenas icônicas, e, portanto, facilmente reconhecíveis são emuladas sem muito propósito narrativo, como as famosas sequências do jato de vômito, feridas no corpo que tomam forma de palavras sombrias, o corpo da vítima se contorcendo de maneira sobre-humana, atos de perversão por parte da criança possuída, etc. A execução dessas cenas é tão desprovida de inspiração que até os enquadramentos são semelhantes ao do clássico no qual se inspira/imita.  

Resta a Russell Crowe toda a responsabilidade do projeto e, justiça seja feita, ele fez o que pode. Por mais que a trama tenha como temática a possessão, a história é muito mais sobre a figura controversa do padre do que qualquer outra coisa. Talvez na intenção de emplacar uma franquia, como fez ‘Invocação do Mal’ graças ao casal protagonista Ed e Lorraine Warren, o filme gasta boa parte do tempo construindo o mito por trás do personagem. É no mínimo curioso assistir um ator tão fixado no imaginário popular como um grande guerreiro em ‘Gladiador’, realizar cenas de luta contra o sobrenatural, com direito a corpos voando ao serem golpeados no melhor estilo 'Mortal Kombat' e cajados flamejantes em catacumbas secretas à la ‘Indiana Jones’. Entretanto, nem tudo é descartável já que os melhores momentos provavelmente sejam aqueles em que o filme não se leva tão a sério e abraça a galhofa. Acrescente isso ao bom “timing” cômico do nosso eterno Máximus e temos um entretenimento que ao menos rende boas risadas. 




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