'Bem-Vindos de Novo' : documentário sensível aborda o impacto da imigração nos laços familiares de descendentes de japoneses | 2023
NOTA 7.0
Por Marcello Azolino @pilulasdecinema
Com uma sensibilidade notável, o diretor Marcos Yoshi mergulha na vida de sua família e garante registros íntimos sobre seus pais descendentes de japoneses, Yayoko e Roberto Yoshisaki. Ambos foram levados a abrir mão do convívio com seus filhos para se mudarem do Brasil para o Japão com o intuito de ganhar dinheiro para seu sustento e de sua família, separados por quilômetros de distância. O documentário é um retrato personalíssimo da dinâmica familiar de Yoshi e o impacto que essa distância entre pais e filhos, por cerca de 13 anos, deixou na vida dos 3 irmãos: Marcos, Cinthya e Nathalia.
O Doc é narrado pelo próprio Marcos Yoshi e com sua câmera consegue capturar momentos de afeto da família, momentos de frustração a partir da decisão dos país de partirem para o Japão, bem como o claro impacto que deixou na vida dos três filhos a falta física da mãe e do pai por pouco mais de uma década. Os meninos foram viver com os avós e se correspondiam com os pais por cartas e envios de fotos, até a tecnologia permitir que fizessem videoconferências para matar a saudade. Em determinado momento, aborda-se como esta distância física tem o impacto terrível de esfriar relações e adormecer laços afetivos dada as circunstâncias de Yayoko e Roberto acabarem perdendo, de certa forma, o referencial da evolução de seus filhos no Brasil.
Passados os 13 anos, o casal decide voltar ao Brasil e o Documentário aprofunda essa tentativa de reconexão com os filhos, que agora já adultos, possuem seus próprios núcleos familiares e suas vidas independentes. Para tentarem ganhar a vida no país, Yayoko e Roberto decidem investir em um restaurante japonês, que torna-se insustentável, revelando as dificuldades hercúleas de se empreender no país.
Em determinado momento, a frustração dos pais de não conseguirem prover sua própria subsistência no país e o próprio senso de desconexão com a sua antiga cultura, jogam Roberto e Yayoko mais uma vez na situação de terem que voltar para o Japão. Momentos mais uma vez delicados registrados especialmente pela insatisfação do pai de ter falhado profissionalmente no país e também pela fragilidade da saúde do patriarca, que mesmo com as limitações, ainda persiste com o impulso de correr atrás do seu sustento e de não depender de ninguém.
Essa montanha russa emocional não é exclusividade da família do diretor, o Documentário escancara a difícil situação dos decasséguis, ou imigrantes brasileiros com ascendência japonesa que retornam ao Japão em busca de condições financeiras melhores para suas famílias. Estas pessoas deixam seus filhos, pais e demais parentes para trabalharem por anos no Japão como mão de obra barata e não qualificada em fábricas sob jornadas de trabalho extensivas que chegam a 12 horas por dia. Além do desgaste físico e psicológico retratado muito bem por Yoshi em seu Documentário, há especial atenção por mostrar o impacto afetivo nas conexões entre pais e filhos de decasséguis. É de cortar o coração...
Sem dúvida alguma é um relato corajoso e contundente de uma realidade pouco explorada pelo audiovisual no Brasil.
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