'Canção ao Longe': longa aborda o amadurecimento e busca de pertencimento de uma jovem negra | 2023

NOTA 6.0

Por Marcello Azolino @pilulasdecinema

Com uma abordagem sensível e cuidadosa, a diretora Clarissa Campolina mergulha em seu longa de estreia solo, 'Canção ao Longe', na busca da protagonista por sua identidade para fazer as pazes com o passado. Jimena, que é interpretada pela atriz Mônica Maria, constrói com sutileza a personagem e pauta essa história com mais pausas e silêncios do que qualquer diálogo autoexplicativo.

Acompanhamos um momento de cisão de Jimena, em que ela busca sair de casa para se libertar do vínculo descompassado entre ela e sua mãe, bem como o impacto emocional que ela nutre através de cartas para seu pai estrangeiro que vive em outro país da América Latina. Questões raciais, sociais e afetivas pipocam no decorrer da narrativa, que encontra espaço super intimista na câmera atenta de Campolina.

O roteiro assinado por Clarissa Campolina, Caetano Gotardo e Sara Pinheiro reflete um olhar bastante feminino sobre o cotidiano de Jimena conciliando seu ofício como arquiteta, suas relações familiares cheias de tensões e sua busca pelo pertencimento como mulher negra procurando autonomia. Jimena mora com sua mãe e avó, que são brancas, o que a desconecta de sua origem negra e gera mais curiosidade de entender esse laço racial com seu pai negro que abandonou a família.

O longa chega esta semana nos cinemas após percorrer o circuito de Festivais e é um bom exemplo de drama brasileiro maduro, que convida o espectador para refletir e tirar suas próprias conclusões sobre o cenário que se desenrola. 'Canção ao Longe' definitivamente não entrega respostas mastigadas, mas deixa em aberto à mercê das incertezas o futuro de Jimena, assim como é a vida...