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'Besouro Azul' : longa transitório da DC se firma na cultura latina e na construção de multiplos discursos | 2023

NOTA 5.0 

Tem muitas coisas que você não sabe sobre sua avó 

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Sejamos honestos: os filmes da DC não tem empolgado tanto nos últimos anos. Com exceção dos filmes "elseverse" (vide 'Coringa' e 'Batman', lançados em 2019 e 2022, respectivamente), os demais filmes tem amargado fracassos ou de público ou de crítica, isso quando não dos dois juntos. O interesse do público com esse universo cinematográfico compartilhado se esvaiu de vez quando foi anunciado um reset com a gestão de James Gunn e Peter Safran, e isso se provou um fator determinante para o (mal) desempenho nas bilheterias. No meio de uma indefinição sobre a qual lado da moeda pertence (o lado do DCEU, com a visão majoritária de Zack Snyder, ou o lado do DCU, encabeçado por Gunn e seu vindouro 'Superman: Legacy'), eis que surge o filme mais deslocado e fingidamente despretensioso do estúdio desde o início do DCEU, dez anos atrás.

'Besouro Azul' é um típico filme família, daqueles populares vistos na transição entre os anos 1990 e 2000. O humor se equilibra entre as piadas físicas e o pastelão (coisa que a DC já fez em 'Shazam!', mas aqui com todo um apelo ao arquétipo latino-americano). Contudo, deve-se destacar que este, apesar de engraçadinho, é o filme mais político dessa leva de longas-metragens conectados da DC - e não confunda "política" com "politicagem"; 'Batman vs Superman: A Origem da Justiça', de 2016, é recheado de politicagens dos mais variados tipos, mas apesar de ter cenas como a do capitólio para enfatizar seu viés, acaba não se posicionando em hora nenhuma. 'Besouro Azul', por outro lado, é surpreendentemente político e se posiciona ideologicamente sem medo de escancarar sua visão. O filme de Angel Manuel Soto faz mais do que apenas catalogar o Batman como fascista e vai além, visto que ele não se abstém de opinar sobre forças armadas, migrações clandestinas, mercado imobiliário, divisão de riquezas, demografias e concentrações econômicas, e inclusive fazendo piada com o uso recreativo de entorpecentes. Contudo, mesmo apesar de seus momentos de sobriedade, o filme está longe de ser sério e sisudo.

As referências à latinidade fervem na tela, e o roteiro não tem vergonha de se assumir cafona em alguns momentos chave - quase como se o amor familiar expresso pelos parentes de Jaime (que se torna o escolhido pelo escaravelho) fosse uma caricatura de si mesmo. O enredo escolhe abraçar uma tiragem colossal de clichês e abdica da brilhante oportunidade de inovar, entregando no fim das contas uma mistura pouco inspirada de gêneros (ação, drama, suspense, comédia) e heróis (a pobreza e os sacrifícios do jovem Homem-Aranha, uma armadura tecnológica como a do Homem de Ferro, um fator de simbiose que remete ao Venom mesmo embora seja totalmente diferente, e até alguns trejeitos e  expressividades da máscara como os de Deadpool). O filme teve a oportunidade de ser um ícone representativo como foi 'Pantera Negra' em 2018, mas se acomodou em um lugar comum e se tornou mais do mesmo.

Na ação, nada novo - e nem tampouco nos efeitos; mas pelo menos não faz feio como 'Flash' fez meses antes. A concepção técnica é boa, compensando parcialmente algumas deficiências e facilitações do roteiro, mas sozinha não garante que o filme se torne memorável. O que fica após a sessão é um ou outro ponto de seu discurso - que, embora não seja inédito, tem seus méritos e passa uma mensagem clara. Ao público brasileiro, ficará a memória do debute de Bruna Marquezine em Hollywood em um papel de destaque que promete ser o primeiro de muitos outros. Por fim, com cagadas de luxo e Xolo Maridueña disfarçando as durezas de seu personagem, este novo filme divide as águas da DC com conveniências e piadas de pum. Tomara que a DC da era Gunn/Safran se aprume de uma vez, para que fique definido o lugar ao qual 'Besouro Azul' pertence de verdade. 





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