Adsense Cabeçalho

'Fale Comigo' : produção independente chega ao Brasil após sucesso em Sundance | 2023

NOTA 7.0 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

O Festival de Sundance é o maior evento de filmes independentes dos EUA que todos os anos é responsável por impulsionar produções e graças a essa boa repercussão, recebem financiamento e ampla visibilidade. Foi assim com “CODA – No Ritmo do Coração”, que na época teve aquisição da Apple e depois de uma trajetória surpreendente foi vencedor do Oscar no ano seguinte. Se tratando de cinema independente, é claro que o terror também estaria presente. Este ano o australiano “Fale Comigo” foi a sensação da vez, tendo os direitos de distribuição nos EUA adquiridos pela A24, que por sua vez iniciou uma campanha muito bem-sucedida, arrecadando cerca US$30 milhões só na bilheteria doméstica. No Brasil, o longa chega pela Diamond Films. 

Na trama acompanhamos Mia (Sophie Wilde), que tenta superar o luto após a trágica morte de sua mãe. Através dos amigos ela tem contato com um artefato que permite a conjuração de espíritos e o contato com o além. Fascinados com a experiência e com o uso cada vez mais frequente, um pesadelo se instaura quando um deles ultrapassa os limites. 

Dirigido pelos irmãos Danny e Michael Philippou, a dupla começou sua carreira no Youtube onde são criadores do canal RackaRacka. A maneira com que a câmera se comporta evidencia essas origens, numa estética mais frenética e com edições que lembram esquetes de humor e/ou ação (especialidade do canal), outras vezes reproduzindo algo semelhante a vídeo clipes musicais. Há inclusive uma sequência bastante dinâmica de múltiplas conjurações com uma clara analogia ao uso de drogas. Um tipo de montagem que pode incomodar os mais resistentes a novas tendências. Algo semelhante aconteceu na década de 90 quando o cinema embarcou na onda MTV, incorporando cortes mais rápidos e numerosos. Porém, o fato de haver algo de novo não necessariamente indica uma mudança mais ampla, afinal com a velocidade de hoje as novidades costumam durar muito pouco. Em “Fale Comigo” essa escolha criativa é eficiente e cria ótima atmosfera ao mesmo tempo que dita um ritmo acelerado e de elevada tensão. 

O elenco é razoável, com especial destaque para a protagonista, Sophie Wilde, que entrega boa performance. Nas primeiras cenas vemos uma personagem apática, seu contato com o pai é pouco nítido, a maioria das vezes acontecendo nas sombras. Em seguida, completamente imersa no vício, é possível ver na euforia um desesperado pedido de ajuda, até por fim presenciarmos a dor e consequência de seus atos. Essa trajetória exige muito da atriz e ela entrega com louvor, sobretudo no olhar e na fisicalidade. Já os demais não têm muito material para trabalhar. Nesse sentido o texto reduz todo elenco de apoio a um mecanismo raso que apenas faz a história andar e nada mais. 

Outro desequilíbrio está na condução do terror propriamente dito. O longa trabalha com poucos temas e ao introduzi-los aposta na dramaticidade em detrimento dos elementos mais comuns no horror. O começo tem sutilezas que, quando migram para o terror mais frontal, de característica gore e sobrenatural, o faz de forma vacilante, se mantendo em um limbo confuso entre duas pegadas pouco harmônicas. Já tecnicamente, o filme se sai bem com excelentes efeitos práticos, uma fotografia que faz bom uso dos cantos escuros e a completa ausência de ‘jump scare’. Talvez o único excesso esteja na mixagem de som devido alguns barulhos e ruídos acentuados demais, o que além de destoar da proposta realista, soa demasiadamente invasivo e manipulativo. 

Após um longo período de divulgação, “Fale Comigo” chegou ao Brasil trazendo grandes expectativas. Se por um lado a publicidade é um fortíssimo ativo para os produtores, cabe um pouco de cautela uma vez que essas mesmas expectativas podem gerar frustrações e, por consequência, toda uma onda contrária ao hype. Nesse quesito, talvez o expectador desavisado se beneficie mais, já que parte de um lugar sem ideais preconcebidas e assim encare o filme de coração e mente mais abertos.  






Nenhum comentário