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'Ursinho Pooh: Sangue e Mel': releitura do clássico infantil transforma sonho em pesadelo | 2023

NOTA 2.0 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


Qualquer grande produção começa com uma boa ideia. Parece óbvio, porém se refletirmos um pouco mais sobre a afirmação, a lógica não é assim tão direta. E quando uma boa ideia dá errado? Curioso como esse questionamento coloca em destaque outra obviedade, de que se tratando de arte, muito pouco está relacionado a conteúdo. Em contrapartida, tudo é forma. 

A lei de direitos autorais varia de acordo com o país, no caso dos EUA são 95 anos. O Ursinho Pooh teve os direitos adquiridos pela Disney ainda na década de 60, entretanto, a obra original é de 1926, tornando possível em 2022 qualquer um utilizar o personagem, exceto pelo visual concebido pela própria Disney, este ainda protegido pela mesma lei. 

Com um orçamento inicial de 30 mil dólares, Rhys Flake-Waterfield foi o primeiro com a iniciativa de imaginar algo aproveitando essa brecha. A criação tem seu valor do ponto de vista criativo, afinal, o Slasher nunca foi um gênero que se levou a sério e o terror tem um longo histórico de reimaginar contos infantis de maneira mais sombria. 'Pinóquio', 'Alice no País das Maravilhas' e 'João e Maria' são alguns exemplos. A ideia chamou atenção de investidores, o que fez o orçamento aumentar para 100 mil dólares, além de ganhar tempo de exclusividade nos cinemas, arrecadando até o momento, cerca de 5 milhões de dólares. 

Na trama Christopher Robin vai para a faculdade e deixa Pooh e Leitão sozinhos na floresta após anos de amizade. Abandonados e com dificuldades para se alimentar eles recorrem aos seus instintos para sobreviver, assassinando todos que surgem no caminho.  

A produção é amadora, mas nesse quesito o recente 'Terrifier 1 e 2' mostrou que pouca experiência se compensa com talento. O criador de Art, o palhaço assassino, Damien Leone, mostra muita segurança e competência em tudo que faz, em especial na criação do personagem, maquiagem e efeitos práticos. O mesmo não se repete em “Ursinho Pooh: Sangue e Mel”, cujo início é até promissor, que se assemelha bastante aos filmes do mesmo subgênero da década de 80 e aparentemente emula um visual retrô para compensar certa precariedade técnica. Contudo, não demora muito para descobrirmos que o precário é a única constante do longa. Nenhuma atuação é minimamente convincente, e se não há esse artifício em níveis capazes de nos fazer afeiçoar ou torcer pelas vítimas, a lógica era transferir esse potencial carismático ao vilão. Característica presente em personagens como Freddy Krueger e Chucky, com suas frases de efeito e tiradas cômicas seguidas de muito sangue. Aqui, também não é o caso.  

Quando o assunto é Slasher, duas coisas saltam aos olhos; Máscara e/ou Arma. Basta pensar em Jason, Leatherface, Michael Mayers, dentre outros. Todos são associados ao que vestem ou a ferramenta que usam. Pois bem, em “Sangue e Mel”, Ursinho Pooh e o Leitão são basicamente dois homens grandes com máscaras de borracha, sendo que o filme não vende a ideia da artificialidade ou de psicopatia humana. O diretor mantém os dois pés fincados na fantasia e parece convencido de que o público compraria a ideia de que aquele é, de fato, um animal selvagem com traços humanoides. Até mesmo a movimentação dos atores é dificultada pelo claro desconforto produzido pela peça, limitando maneirismos que poderiam dar aos monstros alguma identidade própria - porém o que se vê são deslocamentos robóticos e, por consequência, um senso de urgência e perigo reduzidos. 

Definir o sucesso de um projeto tem muito pouco a ver com a qualidade ou a recepção de público e crítica. O filme vem recebendo péssimos feedbacks ao mesmo tempo que ganha circuitos de exclusividade nos cinemas fora dos EUA, além de já estar confirmada uma sequência de orçamento cinco vezes maior. O  idealizador ainda  tem intenções de criar um verdadeiro “multiverso” do horror levando para as telas versões macabras de Peter Pan e Bambi. Pelo jeito nem só de sonhos vive Hollywood, o pesadelo também é um excelente negócio. 








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