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'As Tartarugas Ninja: Caos Mutante' : com visual impressionante, novo filme exercita a simpatia de seus absurdos | 2023

NOTA 8.0

Autografa o meu bebê

Vinícius Martins @cinemarcante 


"Pra trás! Eu tenho um bastão" - a fala de Donatello no primeiro combate que as Tartarugas enfrentam é bastante curiosa. Sua insegurança contrasta com as habilidades que ele e os demais membros do quarteto mutante apresentam em uma crescente até o clímax, onde ganham ares quase apoteóticos e são confrontados por um vilão com um ão bem grande. Donnie, como o vemos ser chamado no decorrer do filme em um caráter mais íntimo, é o elo mais "frágil" dentre as Tartarugas educadas pelo mestre Splinter (que aqui tem a voz de Jackie Chan em inglês), e o escolhi para abrir meu comentário por conta de uma questão bem simples: seu jeito desengonçado e nerd, com óculos grandes e quadrados, me lembra uma adolescência que há tempos não via ser retratada no cinema, com um olhar humanizado sobre essa época ansiosa e super confusa da vida. É sobre essa época que 'As Tartarugas Ninja: Caos Mutante' se trata, claro, com uma alegoria enorme.

O grande trunfo do filme dirigido por Jeff Rowe (roteirista de 'A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas', de 2021) é a fácil identificação entre os personagens com o seu público. Ao inserir dilemas e abordagens mais adolescentes aos heróis e fazer valer o "teenage" que originalmente carregam em seu título, houve uma facilitação no entrosamento entre as partes e as gerações que se dispõem a ir assisti-lo no cinema. A escolha de tirar de April O'neil a memória sexualizada que ficou após a performance de Megan Fox nos filmes de 2014 e 2016 e colocar uma jovem insegura da periferia e aspirante a repórter também foi uma ótima sacada. É a primeira vez que as motivações de todos os personagens ficam tão tangíveis e emocionais em um filme para o cinema, principalmente o viés paterno de Splinter e seus ressentimentos com o mundo acima dele. Com um equilíbrio firme entre a comédia, a música e a ação, essa nova animação já desponta como uma das melhores do ano e certamente será lembrada na próxima temporada de premiações.

O filme é sujo, torto, propositalmente nojento e bastante repulsivo em algumas de cenas, mas não de uma maneira ruim e sim de modo a ressaltar absurdos e destacar o nosso próprio desconforto, enquanto humanos, com algumas interações entre as espécies mutantes discriminadas no filme. Os contornos e texturas trazem um incômodo intencional por parte de seus idealizadores, mas nunca perdem a beleza exótica que a estética criada para o filme (que mais parece um retalho de belíssimos esboços) adota. Cativante e estranho durante quase toda a sua duração, 'As Tartarugas Ninja: Caos Mutante' é uma aula de animação para adultos, como se fosse um aceno material às palavras de Guillermo Del Toro em seu discurso após vencer o Oscar pelo seu brilhante 'Pinocchio' (2022). Com um elenco de voz excelente e uma abordagem memorável para as Tartarugas, 'Caos Mutante' exala sensibilidade mesmo em meio à sua carranca de absurdos colossais. O resultado não poderia ser outro: é um filme para ver na telona e relembrar a adolescência e suas peripécias de afirmação.




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