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'Ithaka: A Luta de Assange': doc discute a verdade que aprisiona através da batalha enfrentada pelo fundador do Wikileaks | 2023

NOTA 6.0  

“Os EUA venceram.”

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme


No livro Cyberpunks – Liberdade e o futuro da Internet, o ativista australiano Julian Assange já prenunciava os efeitos de um processo do qual hoje é uma das principais vítimas: “A Internet, nossa maior ferramenta de emancipação, está sendo transformada no mais perigoso facilitador do totalitarismo que já vimos.”. Esse vaticínio proferido pelo criador do Wikileaks traduz toda a luta enfrentada por ele e por sua família na busca pelo fim de um encarceramento que pode ser definido por uma única palavra: arbitrariedade.

O documentário “Ithaka – A Luta de Assange” se debruça sobre o caso do ativista que, após trazer à tona informações confidenciais acerca dos crimes de guerra cometidos pelo EUA durante a guerra do Iraque, virou alvo do governo norte-americano. O longa dirigido por Ben Lawrence foca, sobretudo, na verdadeira saga enfrentada pelos familiares de Assange para tirá-lo da prisão. Dessa forma, o espectador percorre junto com John Shipton, o pai, diversos países numa peregrinação em busca de apoio – algo nada fácil tendo-se em vista o poder do inimigo – e elementos que reforcem a ideia de que o filho estava apenas cumprindo seu dever como jornalista: “Se ele cair, o mesmo ocorrerá com o jornalismo.”, sentencia com um nítido cansaço na voz.

Do exílio na embaixada equatoriana em Londres (que durou sete anos!) até o seu efetivo encarceramento em 2019, essa espécie de Prometeu cibernético sofre as consequências de ter desafiado uma divindade feroz e extremamente influente no panteão da política internacional, algo que nem mesmo a transição entre três presidentes ao longo dos anos conseguiu abrandar. Com isso, fica difícil não pensar na contradição de uma nação que se coloca como uma das democracias mais fortes do mundo, bandeira global de uma suposta liberdade, não medir esforços para barrar a ação da imprensa – indo na contramão do que prega a 1ª Emenda, inclusive –, esconder atrocidades e manipular a opinião pública de acordo com seus interesses.

Etapa mais recente de um longo processo que objetiva dar fim ao tortuoso caminho trilhado por uma figura corajosa e resiliente, “Ithaka – A Luta de Assange” reacende o seu alerta lançado no já referido livro, que comprova as razões de todo o imbróglio retratado em tela: na chamada era da informação, o perigo maior reside no seu controle por parte de nações poderosas que se valem de práticas totalitárias, mesmo sob o disfarce do rito democrático. E não deixa de ser irônico quando, em dado momento, Joe Biden surge em discurso, com a cara deslavada dos hipócritas, soltando uma frase de cunho bíblico que arrepia qualquer brasileiro com o mínimo de memória: “A verdade vos libertará!”. Assange que o diga...





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