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Festival de Cinema de Vitória : 'A Cozinha' | 2022

NOTA 8.0

Johnny Massaro faz do constrangimento um protagonista em trabalho memorável e intenso

Por Vinícius Martins @tesouronacional 


"Você não pode fugir de você". De todas as linhas de diálogo do roteiro escrito por Felipe Haiut, essa foi a fala que permaneceu reverberando em minha mente durante os quase sessenta minutos de 'A Cozinha' que a sucederam. Estabelecendo tal premissa de uma forma invólucra, o diretor Johnny Massaro pega essas palavras e faz delas o carro-chefe de uma sinfonia de desconfortos e desarranjos que cresce gradualmente e culmina em uma catarse aflita e incômoda, atingindo com exatidão o ápice daquilo que o filme se propõe a ser: uma odisseia de desencantos.


Em seu filme de estreia no cargo de direção, Massaro faz do constrangimento um protagonista e retrata as sombras inquietas de seus personagens como um titereiro que brinca com suas marionetes. Claro, os personagens tem vida própria, mas as mãos que os conduzem tem um tato excelente para a sensibilidade de cada indivíduo em cena. Aqui temos Júlia Stockler, Catharina Caiado, Saulo Arcoverde e o próprio Haiut interpretando personagens que se estranham entre si e ao mesmo tempo se assemelham em muitos aspectos. As sequências desconcertantes onde tentativas de interação entre eles acontece são plenamente tangíveis, e o porte de cada membro do elenco oscila quase que como magneticamente, repelindo e atraindo uns aos outros com uma potência orgânica e um cinismo calculado.

O filme também é bastante competente em suas categorias técnicas, e a palavra que talvez melhor defina essa produção seja simplicidade - mas veja bem, não vá confundir simplicidade com facilidade. Fazer cinema é complicado, e podemos dizer que, para um primeiro filme, o diretor estreante se saiu muito bem. Massaro reinventou a roda? Não, e nem precisava - nem tampouco se propunha a isso. O filme é redondinho, dinâmico e eficiente naquilo que intenciona mostrar, e mesmo sem nenhum elemento extraordinário em sua direção, Massaro conseguiu entregar com louvores um trabalho memorável e intenso, que não precisa explicitar a nudez para ser sensual e nem carece de grandes explicações sobre o antes e o depois, porque tudo se resume ao momento. E o momento, meus queridos, é voltar a dançar as músicas do Latino.






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