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'Som da Liberdade' : baseado em eventos reais, filme aborda assunto polêmico com suavidade cristã | 2023

NOTA 8.0

Por Maurício Stertz @outrocinéfilo 


Desde antes mesmo de sua estreia nos Estados Unidos, 'Som da Liberdade' sacudiu a internet brasileira com a promessa de “filme polêmico” do ano e, essa ‘proibição’ prévia serviu, com certeza, para o marketing e engajamento da audiência assim que chegou aos cinemas daqui. Com uma luta contextualizada a qualquer espectador corajoso de espiar esse burburinho de perto, pois, de fato aborda um tema muito delicado e pouco banal de uma realidade que expressa estes mesmos momentos de crueldade diários nos noticiários. Tudo que envolve a produção, é caso pensado, pois não se preocupa em içar suas bandeiras como um veleiro na busca esperançosa por uma corrente de vento – ou pessoas dispostas a ouvirem a mensagem principal. Mas além desse sensacionalismo que serviu à promoção do filme, devo dizer, porém, que a seriedade desse longa metragem, que há muito ensaiava sua estreia (com muitos cancelamentos e pandemia de obstáculo) e só foi concluído devido a um crowdfunding, me impressiona positivamente. 

Enquanto estrutura, o filme não há um sobressalto visível de qualidade. É sobre texto, antes de forma. Não se contentando em ser um filme esquecido no limbo da história, 'Som da Liberdade' sabe muito bem o patamar que deseja alcançar na sua concepção, como um filme missionário (ao ser religioso) que se esgueira e multiplica no seu público-alvo. Isso é visto principalmente na mensagem pós-crédito na voz embargada do messianismo de Jim Caviezel. 

A trama é baseada em eventos reais. Unindo-se a vida de Jim Ballard, o lado ficcional construído pelo diretor Alejandro Gómez Monteverde amarra-se a espinha dorsal e demarcam seu heroísmo. Diferentemente, tentarei suavizar algumas linhas pela liberdade da escrita, a fim de não causar desconforto ou mesmo a aversão de alguém ao filme. Jim Caviezel, memorável por seu papel em 'A Paixão de Cristo', interpreta Jim, um policial encarregado de desmantelar o tráfico sexual de crianças e adolescentes nos Estados Unidos. Já criado em cascas de insensibilidade pelo que o seu trabalho exige diariamente, durante uma de suas diversas apreensões, um dos casos toca seu coração: a de um pai enlutado que espera notícias da sua filha, uma das vítimas que cruzaram o seu caminho.

É inegável, porém, que exista uma “caça às bruxas” midiática pelo posicionamento que se assume no filme, baste ver as manchetes que recheiam os folhetins. Durante toda a semana após o lançamento, as críticas em sua maioria criticam o que é ficcional sobre a história de Jim (ou mesmo as polêmicas que o envolveram), esquecendo-se da principal mensagem e manchando, com conivência, o intuito de levar algo sério ao público. Queiram envolver política à vontade, no embate mesquinho esquerda x direita; ou mesmo acusar o heroísmo branco ou até mesmo a esfera cristã assumida em que a produção está. Ao fazê-lo, se varre para baixo do tapete algo que acontece aqui deste lado da tela, no mundo real. A crescente dos focos do problema é subestimada quando se crítica texto e não forma. Queiram então fazer as críticas a forma melodramática como o filme conta a história ou a trilha sonora que o acompanha estridente e quebra a conexão dramática bem construída. Gostar ou não desse filme é uma condição totalmente pessoal, claro. Contudo, tire suas próprias conclusões, não se deixe levar por ninguém ou mesmo por mim.

O que rouba a cena mais uma vez, é o personagem interpretado por Jim Caviezel. A quem o conhece de outros filmes ou mesmo das entrevistas que fez parte em todos os anos pós-Cristo, facilmente “compra” a verdade emocional que o ator transmite e a preocupação com a mensagem entregue, como um guia espiritual de fala mansa e olhar sereno. Se em um personagem precisamos ver ‘verdade’, Stanislavski me daria razão ao ficar impressionado.

É por estas e outras que o Cinema faz refletir, denunciando o que há para ser denunciado, como um Brecth sem as insanidades cômicas.






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