Festival do Rio: 'Meu Nome é Gal' | 2023
Cinebiografia celebra Gal Costa em meio aos anos de chumbo da ditadura
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Filmes biográficos enfrentam o desafio crucial de escolher um recorte específico para contar a história. Alguns correm o risco de abranger toda a trajetória, tornando-se vagos e negligenciando momentos-chave, especialmente em carreiras longas. No entanto, há momentos cruciais na vida e carreira que capturam a essência do indivíduo e seu impacto. Um exemplo notável é "Steve Jobs" (2015) de Danny Boyle, que se concentra em momentos decisivos, em contraste com "Jobs" (2013) de Joshua Michael Stern, que mais parece um resumo mal feito retirado da Wikipédia. "Meu Nome é Gal" segue o bom exemplo ao concentrar-se em cinco anos transformadores da lendária cantora brasileira, evitando a armadilha de abranger suas cinco décadas de carreira, entregando uma narrativa mais focada e significativa.
Na trama acompanhamos a trajetória de Gal Costa, uma menina tímida que desde muito cedo soube que a música guiaria seus caminhos e que aos 20 anos decide viajar rumo ao Rio de Janeiro para se tornar cantora. Lá, a jovem encontra seus amigos Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Dedé Gadelha, que acompanham os seus primeiros passos na música em meio aos anos de chumbo da ditadura militar.
O filme começa em 1966, quando Gal Costa, então uma artista desconhecida pelo grande público, se muda para o Rio de Janeiro, onde moram velhos amigos que já desfrutavam de certo prestígio no mundo artístico. O primeiro ato concentra-se nessa contextualização, construindo conexões sólidas entre os personagens, o que nos permite maior aproximação e envolvimento. No entanto, a narrativa apresenta o desenrolar da carreira e das primeiras conquistas que, em alguns momentos, parecem ocorrer de forma mais fácil do que realmente foi. Se em um momento testemunhamos Gal sendo rejeitada no programa de TV, em pouco tempo, ela já está gravando um disco. Com isso, o progresso da personagem parece acontecer de maneira brusca e menos gradual. O longa tem momentos musicais com variações de qualidade, com alguns trechos que deixam a desejar em termos de edição e mixagem de som, especialmente quando retratam as gravações em estúdio da cantora. No entanto, quando Sophie Charlotte interpreta as composições, ela eleva consideravelmente a qualidade com uma performance vocal impressionante. A propósito, a atriz é o que “Meu Nome é Gal” tem de melhor.
Vivemos em tempos desafiadores, e os últimos quatro anos foram especialmente difíceis para o cenário cultural brasileiro. A decisão de contar a história de Gal Costa durante os anos da ditadura, explorando os momentos de repressão, é, sem dúvida, uma escolha louvável. Essa abordagem nos leva a lugares e situações que elevam ainda mais a nome de Gal Costa. A arte é, inegavelmente, uma forma de resistência, e Gal foi uma das vozes mais proeminentes nessa luta.
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