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Festival do Rio: 'Pobres Criaturas' | 2023

Lanthimos dá vida nova a Frankenstein com muito humor e protagonismo feminino 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


Frankenstein é um romance escrito por Mary Shelley, publicado em 1818 e sem muita sutileza, a principal obra que inspira “Pobres Criaturas”. Com Yorgos Lanthimos a frente na direção, o controverso cineasta grego injeta uma abordagem reminiscente de "Pigmalião", peça de George Bernard Shaw realizada quase cem anos depois, em 1912. Nessa nova leitura, questões como responsabilidade ética, a busca por conhecimento, desconexão social, a dicotomia entre natureza e ciência, bem como alienação e rejeição, ganham uma nova camada. Após trafegar pelos séculos XIX e XX, Lanthimos faz o clássico adentrar o novo milênio ao abordar o empoderamento feminino e todo tipo de questionamento oriundo da pauta feminista, como complexidades de classe e identidade, ecoando a temática central de "Pigmalião", compilando três séculos de discussões atemporais. 

Na trama acompanhamos Bella Baxter (Emma Stone), uma jovem trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin Baxter (Willem Defoe). Ansiosa por explorar o mundo ela escapa com a ajuda de Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), embarcando em uma jornada por diferentes países. Desafiando as convenções sociais e alheia aos preconceitos da época, Bella busca a verdadeira emancipação em uma aventura épica repleta de descobertas e transformações. 

Do ponto de vista técnico, o filme é impressionante. O design de produção é especialmente notável, pois combina elementos futuristas com estética que remete aos áureos tempos da aristocracia europeia, como espasmos de progresso inseridos em uma sociedade presa no passado. Os cenários suntuosos, embora pouco realistas, são coesos com uma encenação por vezes teatral e caricatural. Paradoxalmente, essa abordagem caricatural carrega uma profunda ressonância realista, uma vez que, por mais absurdas que possam parecer as reações de Bella, não é difícil imaginar respostas semelhantes na vida real, especialmente considerando o comportamento dos homens ao seu redor, muitos deles bem-educados e com instrução formal, contudo frequentemente demonstrando atitudes igualmente infantis. Isso cria uma dinâmica intrigante que ressoa com a complexidade humana em um cenário de beleza estonteante. O elenco do filme é notavelmente talentoso, porém é Emma Stone quem se destaca, emergindo como uma forte concorrente na temporada de premiações. Sua interpretação é verdadeiramente única, uma vez que não existem parâmetros prévios para embasamento, criando maneirismos e nuances que, combinados com o excelente timing cômico do filme, arrancam risadas mesmo em momentos constrangedores. 

Yorgos Lanthimos tem trilhado um caminho ascendente desde sua vitória na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes por "Dente Canino”, ainda em 2009. Ganhando a atenção de Hollywood na década seguinte, foi um dos destaques no Oscar 2018 por "A Favorita", dando a Olivia Colman seu primeiro Oscar. Agora, com "Pobres Criaturas", conquista o prêmio principal em Veneza e tem tudo para repetir o sucesso de cinco anos atrás. 






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