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Festival do Rio : 'Monster' | 2023

Premiado em Cannes, longa propõe uma angustiante busca pela verdade 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


Hirokazu Kore-eda é um renomado diretor japonês e figura recorrente no Festival de Cannes. Sua notável carreira inclui a conquista do Prêmio do Júri em 2013 por seu excepcional "Pais e Filhos", seguido pela aclamação por obras como "Nossa Irmã mais Nova" e "Depois da Tempestade" em 2015 e 2016. Sua trajetória atingiu o auge com a prestigiosa Palma de Ouro em 2018 por "Assunto de Família", que também recebeu o cobiçado Oscar de Melhor Filme Internacional. Mestre em manter o equilíbrio entre momentos contemplativos sem deixar o ritmo cair, sua habilidade em transitar entre diferentes gêneros também é digno de nota, o que se evidencia em seu mais recente trabalho, "Monster", onde ele estabelece um diálogo improvável entre o Thriller e o Melodrama.


Na trama, após descobrir que o professor é responsável pela súbita mudança de comportamento de seu filho, uma mãe vai a escola exigindo saber o que está acontecendo. Conforme a história se desenrola sob a perspectiva da mãe, do professor e da criança, a verdade gradualmente vem à tona. 

Embora o conceito de família seja um tema amplo em "Monster", a trama, em sua essência, concentra-se no indivíduo, estruturando o filme a partir de diferentes pontos de vista, um elemento muito comum no cinema desde "Rashomon", clássico japonês dos anos 50, originando o termo "Efeito Rashomon", que se refere à natureza subjetiva da interpretação de eventos ou histórias. Em outras palavras, quando várias testemunhas ou narradores descrevem o mesmo evento, suas versões da história podem ser conflitantes e contraditórias devido às diferenças na percepção, memória e interpretação. A proposta inicial de "Monster" envolve um mistério a ser solucionado e os minutos iniciais são notavelmente intrigantes, com o diretor Kore-eda desmontando o quebra-cabeça e bagunçando suas peças de forma proposital para confundir e gerar estranhamento. Quando a história se volta para o professor, um tom melodramático se destaca na primeira metade, mas esses acontecimentos descritos servem para criar um maior impacto emocional no trecho final, quando o elenco mirim, com atuações impressionantes de Hinata Hiiragi e Soya Kurokawa, assume o protagonismo, e finalmente as peças começam a se juntar. No entanto, se a resolução de um mistério costuma satisfazer o espectador, as revelações em “Monster” vêm acompanhadas de uma boa dose de angústia e melancolia. 

Vencedor do prêmio de Melhor Roteiro e da Queer Palm no Festival de Cannes em 2023, "Monster" adiciona uma nova dimensão à célebre frase "O inferno são os outros", originada na peça "Huis Clos" de Jean-Paul Sartre. Entre as muitas interpretações possíveis, o filme reafirma a ideia de que as pessoas enfrentam tormento, angústia e alienação devido à presença e ao julgamento dos outros. Assim como Sartre, Kore-eda é um fervoroso existencialista que busca, talvez, compreender o significado de nossa existência, mesmo que essa busca frequentemente conduza a resultados trágicos. 









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