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Festival do Rio: 'Vidas Passadas' | 2023

Repleto de sensibilidade, longa é melodrama pós-moderno que reflete sobre o destino e as efemeridades da vida. 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


O melodrama é um gênero com raízes históricas no teatro e na literatura que continua influenciando as artes dramáticas até os dias atuais. Uma característica fundamental desse gênero é a intensificação das virtudes e vícios, destacando artificialmente determinados traços de personalidade. O principal objetivo dessa estética é impactar e comover o espectador, reforçando a qualidade moral e sentimental da obra. Se por um lado o gênero é marginalizado, por vezes até usado em tom pejorativo, por outro, é extremamente popular. A capacidade do melodrama de ressaltar as paixões humanas e os conflitos morais o torna um gênero duradouro e impactante, com destaque para narrativas culturais latino-americanas, em grande medida graças às telenovelas. Apesar de inovações estilísticas e temáticas, o melodrama pós-moderno ainda mantém uma ênfase na intensidade emocional, no entanto, como fruto de nossos tempos, exercita a compreensão de um mundo de emoções efêmeras, ambientada em uma realidade urbana e em constante mudança. “Vidas Passadas”, novo longa de Celine Song, vai por esse caminho e nos entrega uma profunda e melancólica reflexão sobre nosso admirável mundo novo. 

Na trama, acompanhamos Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância que se separam quando a família de Nora emigra da Coreia do Sul para a América. Anos mais tarde, graças ao surgimento das redes sociais, eles se reencontram, desencadeando uma série de recordações e sentimentos até então adormecidos. 

O filme se inicia com uma sequência na qual os três personagens centrais estão envolvidos em uma conversa aparentemente banal. Observados a distância, agentes ocultos à cena tentam imaginar quem são essas pessoas, qual é o relacionamento entre elas, se são casados, irmãos, amigos de longa data e assim por diante. Essencialmente, antecipam um exercício que os espectadores também realizarão a partir daquele momento. 

Celine Song demonstra uma paixão por Nova Iorque que se assemelha de maneira notável aos olhares do cineasta Woody Allen. Semelhante a filmes icônicos como "Manhattan" e "Annie Hall", em "Vidas Passadas", alguns dos diálogos mais cruciais se desenrolam durante caminhadas pela cidade, onde o ambiente se torna parte intrínseca da narrativa, acrescentando significado à história. Essa integração do cenário urbano é também evidente na escolha dos enquadramentos, que se alternam entre planos mais fechados, que destacam expressões faciais e gestuais, e planos mais abertos, onde os protagonistas são reduzidos a pequenos pontos em meio a grandiosidade de uma metrópole. Isso cria uma atmosfera visual que complementa e enriquece a narrativa. 

Aclamado nos festivais de Sundance e Berlin, “Vidas Passadas” segue uma trajetória similar aos recentes sucessos da A24, como "Minari" e "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo". Tudo indica que o filme está se posicionando com força para a temporada de premiações, com uma campanha robusta de divulgação e promoção já em curso. Agora, resta aguardar a reação do grande público mas, considerando o histórico da A24 como a “queridinha” entre os cinéfilos, a produtora parece destinada a mais uma vez deixar sua marca. 






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