'Jogos Mortais X': décima entrada na franquia encontra algum frescor, mas evidencia sinais de degaste | 2023
NOTA 6.0
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
O cinema de horror há muito tempo apresenta obras que exploram a violência extrema, muitas das quais se tornaram clássicos do gênero. Com o avanço das técnicas de maquiagem e efeitos visuais, a capacidade de criar cenas realistas atingiu níveis sem precedentes e, por consequência, a virada do século testemunhou o surgimento da era de ouro do cinema extremo, impulsionada não somente por esses recursos materiais favoráveis, mas também por se situarem em um ambiente político menos propício a censura, fator que limitou o alcance de muitos longas do tipo, em especial nos anos 80. "Jogos Mortais" emergiu como principal expoente desse “cinema extremo”, tornando-se uma das franquias de terror mais lucrativas da história, ultrapassando a marca de 1 bilhão de dólares em arrecadação. Entretanto, desde o fim da trilogia inicial, a franquia mostra sinais de desgaste devido à repetição da fórmula e, felizmente, “Jogos Mortais X” encontra algum frescor.
Na trama, à espera de um milagre para sua doença, o debilitado John Kramer viaja ao México em busca de um procedimento médico experimental de alto risco. No entanto, ao chegar ao seu destino, ele se depara com um ambiente sinistro, percebendo que toda a operação é uma farsa, destinada a enganar pessoas já fragilizadas. Agora, munido de um novo propósito, o infame assassino em série utiliza de suas engenhosas armadilhas para reverter o jogo contra os charlatões.
A linha do tempo sempre foi um fator complicador à medida que a franquia avançava. Após o terceiro filme, muitos dos artifícios que impulsionavam a história se baseavam na criação de lacunas do passado, a maioria delas parecendo um tanto forçadas. Em "Jogos Mortais X", os eventos ocorrem entre os filmes 1 e 2, o que representa o primeiro ponto positivo dessa entrada. Isso acontece porque, mais do que em qualquer outro filme da série, "Jogos Mortais X" coloca o foco principal em John Kramer, inquestionavelmente o personagem de maior relevância e apelo na franquia.
Sinônimo de criatividade no que diz respeito à engenhosidade das armadilhas, "Jogos Mortais X" dedica sua primeira meia hora ao drama e à construção da narrativa. Isso, por um lado, nos aproxima ainda mais de John Kramer, brilhantemente interpretado por Tobin Bell. No entanto, por outro lado, estende-se demais em uma trama na qual já sabemos seu desfecho, uma vez que, a essa altura, o público-alvo está familiarizado com a essência da franquia e compreende que, com raras exceções, personagens adicionais têm poucas camadas e são, basicamente, carne para abate. Um ponto destacado nesse caso é o retorno de Amanda Young, a antiga vítima que se tornou aprendiz de Kramer. A atuação de Shawnee Smith merece destaque pela maneira como oscila entre o comportamento frio e reativo e momentos profundamente emotivos, permitindo que seus traumas do passado se manifestem de forma convincente. As armadilhas também voltam às origens, assumindo um caráter mais artesanal e menos megalomaníaco, em contraste com os últimos capítulos da franquia. Os efeitos práticos mantêm um nível de excelência, e, embora a câmera assuma um olhar de hesitação, muitas vezes desviando o foco da imagem, a edição e a mixagem de som fazem um trabalho admirável ao dar volume as sequências de dor e sofrimento, proporcionando uma experiência impactante para além do visual.
Com um orçamento de apenas treze milhões de dólares, não é exagero afirmar que o sucesso nas bilheterias é quase certo, e é fácil prever que uma nova sequência será anunciada em breve. "Jogos Mortais X" está longe de ser um grande filme, porém possui méritos suficientes para restaurar a confiança do público. Definitivamente, demonstra que, mesmo com a fórmula desgastada, ela não apenas continua funcionando, mas também, com algum esforço, pode oferecer novas saídas criativas e proporcionar um ótimo entretenimento.
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