'A Bela América' : dramédia portuguesa tem amor platônico e política no mesmo prato | 2023

NOTA 5.0

Por Rogério Machado 

O cinema português tem crescido a cada ano e mais e mais vem ganhando distribuição no Brasil. Muito aquém do que produzimos por aqui, mas historicamente com grandes nomes e bons títulos, a cinematografia lusitana é marcada por um cinema diverso e autoral. 'A Bela América' tem o costumeiro humor visto no cinema português, mas é a vontade de querer abraçar tudo num pacote só que faz do novo longa do cineasta Antônio Ferreira ('Pedro e Inês' - 2018) perder a força ao longo da exibição. 

Na trama iremos conhecer Lucas (Estêvão Antunes) que depois de um infortúnio e de uma superexposição,  decide investir na alta gastronomia, acreditando que o seu talento para cozinhar será o suficiente para impressionar América (São José Correia), uma estrela de televisão e candidata a presidente, permitindo-lhe ultrapassar a linha que separa seu mundo do  mundo dela. Lucas passará  cotidianamente invadir a  casa de América, cozinhando para ela os pratos mais inusitados, mas sem se revelar, observando à distância. Todos os dias assim que América chega em casa se depara com um majestoso jantar sobre a mesa da sala.

'A Bela América' é uma espécie de fábula social que mistura gêneros e referências, tem uma boa premissa, mas que falha na execução ao não estabelecer o caminho que deseja percorrer, se a sátira ou a dramatização do amor platônico que Lucas nutre por América. Ainda que Ferreira deixe claro que estamos diante de uma fantasia, o longo tempo investido na preparação clandestina do menu para América assim como sua degustação, soa muito irreal e caricato. Dessa forma, acaba não sobrando espaço para a crítica política que  reside no miolo da história, e se fosse melhor desenvolvida sem dúvida alguma alcançaria maior êxito.  

'Levar uma facada é o sonho de qualquer candidato...' Lucas ouve essa afirmação quando tenta desvendar  um atentado contra América durante a campanha quando ela estava atrás nas pesquisas naquele momento. Isso te lembra alguma coisa? Em entrevista ao site português Comunidade Cultura e Arte, Ferreira contou que, originalmente, escreveu o roteiro desse projeto vinte anos atrás, mas fez mudança já que o presente é bem diferente daquele momento. Entre tantos acontecimentos na política mundial a polarização no Brasil pelo jeito gerou material de sobra para o cineasta e é uma pena que ela tenha deixado o foco da crítica realizando um trabalho que ao tentar ser muitas coisas, acabou não emplacando nada.