'As Marvels' : divertido e cativante, filme revive a boa e velha Marvel - para o bem e para o mal | 2023
NOTA 7.0
O Captain! My Captain!
Por VinÃcius Martins @cinemarcante
Virou uma tendência cinéfila, até mesmo entre uma parcela revoltada dos fãs, destilar ódio à Marvel na era pós 'Vingadores: Ultimato'. É indiscutÃvel que o nÃvel das produções tenha decaÃdo, principalmente após o estúdio adotar uma postura de produção que prioriza a quantidade acima da qualidade. Como resultado, desenvolveu-se uma série de séries para assistir, como se tentassem fidelizar um público já fiel, e mais uma leva de filmes que beiram o descartável e que em muito pouco acrescentam ao todo que o Universo Cinematográfico Marvel sempre foi. Isso, obviamente, se reflete nas bilheterias e no desempenho dentro do streaming, e agora o produtor Kevin Feige optou por colocar o pé no freio para reajustar a rota. 'As Marvels' chega aos cinemas ao mesmo tempo em que se anuncia que todos os filmes seguintes sofrerão adiamentos, para finalizações que elevem a qualidade e, com sorte, para dessaturar um pouco o mercado com tantas obras do gênero.
Ocorre que o novo filme, dirigido e co-roteirizado pela excelente Nia da Costa (de 'A Lenda de Candyman', de 2021), se encontra em um meio-de-caminho onde a reformulação se faz necessária e urgente, mas ao mesmo tempo em muito se parece com um filme tÃpico da fase 1 do MCU. Positivamente ele é divertido, envolvente, carismático, bem acabado em efeitos e demais quesitos técnicos, tem uma identidade rÃtmica agradável e ainda consegue (finalmente!) apresentar elementos relevantes que entrelaçam eventos passados e futuros como um fluxo de causalidades; por outro lado, negativamente ele tem os mesmos vÃcios de sempre, tais como uma figura vilanesca meia boca, conveniências e facilitações que não se justificam, sabedorias privilegiadas na base do olhômetro, heróis que esquecem as capacidades e poderes do filme anterior, incoerências internas em relação a alguns personagens e seus respectivos comportamentos, e de quebra ainda tem o costumeiro recurso de gancho na cena pós créditos. Faltou alguma coisa?
Para o bem e para o mal, 'As Marvels' é… a Marvel! E honestamente não acho isso detestável, mesmo embora questione os fatores comerciais que tem se sobreposto ao respeito aos fãs, mas ainda assim devo reiterar que o resultado final não é uma aberração e nem tampouco desprezÃvel. O filme se assume como uma galhofa e ri dos próprios ridÃculos e absurdos, e o faz depositando alma e coração na figura adolescente de Kamala Khan (Ms. Marvel) para torná-la o fio condutor entre um público fatigado e os rancores de quem já viu muitas lutas e os mesmos erros de sempre (isso vale para a Capitã Marvel, para os fãs e até para o próprio estúdio). O roteiro tem um frescor bem-vindo de leveza e descompromisso, onde a jornada de amadurecimento das protagonistas é o que mais importa. Isso é bom e ruim, como sempre, mas o saldo dessa vez é positivo por tirar da apatia as produções cujo brilho diminuÃa a cada novo lançamento.
'As Marvels' tem seu charme ao imprimir intimidade à megalomania de um embate espacial. É um filme de equipe, onde o trio protagonista estrelado por Brie Larson, Iman Vellani e Teyonah Parris divide a tela com equilÃbrio e imponência mesmo nas cenas onde se desarmam e expõem suas fragilidades. Não está entre os melhores do estúdio, mas também não está entre os piores. É um filme medÃocre, mas sem o peso da ofensa que a palavra pode trazer. Tem problemas como todos os outros filmes, mas também tem qualidades e particularidades que fazem valer o tempo investido. Com essa nova estreia, fato é que a Marvel precisa respirar e diminuir o passo para não tropeçar nos próprios pés enquanto tenta dar passadas mais largas do que as pernas do público que o acompanha. Então antes de amar ou odiar, confira o resultado e forme a própria opinião. Não é só de filmes-arte que vive o cinema.
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