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Festival de Cinema Italiano : 'A Sombra de Caravaggio' | 2023

NOTA 8.5

Longa retrata o homem intempestivo por trás do gênio da pintura

Por Karina Massud @cinemassud


Caravaggio é um dos grandes nomes da pintura mundial, com seu estilo único ele encantou, subverteu e chocou a sociedade no final do Renascimento com o marcante uso de sombra e luz. Sua pintura é realista, sempre com um fundo obscuro e a cena em primeiro plano com focos intensos de luz sobre os detalhes. Os temas são em sua maioria os religiosos e mitológicos, e pra pintá-los ele se inspirava no povo comum das ruas de Roma: prostitutas, marinheiros, ladrões e mendigos, unindo assim o mundano ao sagrado.

Exibido no 18º Festival de Cinema Italiano, “A Sombra de Caravaggio” retrata a vida turbulenta de Michelangelo Merisi, o gênio Caravaggio, um personagem fascinante e enigmático até hoje.  A trama é ambientada em 1609, tempos sombrios, a inquisição estava à solta condenando todos que não se enquadrassem nos seus padrões rígidos de “santidade”.  Ao saber que Caravaggio usava pessoas de baixa estirpe como modelos para suas obras, o Papa Paulo V envia um agente do Vaticano para investigar o pintor e decidir se concede o perdão por um assassinato cometido por ele. Esse investigador é a Sombra, um homem rígido que está decidido a condenar o pintor por heresia. A sombra também pode se referir à sua arte e ao lado obscuro de sua personalidade atormentada.

O longa é contado através dos relatos de várias pessoas que conviveram com o pintor, em especial sob a visão da Marquesa Costanza Colonna, que o resgatou e o acolheu das tantas brigas em que se envolveu. A narrativa traz mais do homem inquieto e encrenqueiro, o Michelangelo Merisi, para explicar o Caravaggio, gênio rebelde e à frente do seu tempo, que tinha consciência da sua genialidade e por isso se rebelada contra os mestres que não enxergavam nada além do convencional. A linha temporal do filme é um pouco confusa, o que não tira sua qualidade e beleza. Entre idas e vindas, brigas e fugas, conhecemos o processo criativo de algumas das obras mais importantes de Caravaggio: A Inspiração de São Matheus, A Morte da Virgem, A Conversão de São Paulo e A Cabeça da Medusa.

O elenco é excepcional: Riccardo Scamarcio vive o pintor de forma visceral, causando amor e ódio aos que o cercam, mas jamais indiferença; Isabelle Huppert está magnífica como a Marquesa Costanza Colonna e Louis Garrel misterioso e amedrontador como a Sombra.

A direção excelente de Michele Placido optou por focar no desenvolvimento do protagonista, sendo sua obra  o pano de fundo para sua personalidade conflituosa. A cinematografia é densa e soturna, tal qual a vida e trabalho de Caravaggio, com muita tragédia e tons frios em orgias, castelos, igrejas e lugares fétidos. A música valoriza a tensão que paira no ar, pois há um abismo entre as classes sociais, muita violência e o medo da implacável Inquisição. “A Sombra de Caravaggio” é uma experiência refinada  assim como as telas do pintor.




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