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'Tolos São os Outros': intenso e avassalador, longa é uma jornada aos recantos mais sombrios da natureza humana | 2023

NOTA 8.0 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


Alguns dos principais nomes do cinema autoral têm uma propensão para gerar desconforto em seus espectadores. Isso pode parecer estranho numa era em que muitos veem filmes como uma forma de entretenimento. No entanto, é fundamental lembrar que o cinema é uma forma de arte, e a arte desde sempre também busca provocar, questionar e incomodar. Um exemplo de cineasta que se dedica a esse exercício provocativo é o dinamarquês Lars von Trier. Em entrevistas, Von Trier já declarou que sua intenção é "colocar uma pedra no sapato" do espectador e que, sem isso, seus filmes perderiam propósito. De maneira análoga, o diretor polonês Tomasz Wasilewski trilha um caminho semelhante em "Todos São os Outros". Embora sua abordagem não seja marcada pela violência gráfica tão explícita como de Lars Von Trier, Wasilewski consegue provocar uma angústia profunda, conduzindo o público por uma espiral que alcança os recantos mais sombrios da natureza humana. 

Na trama, acompanhamos Marlena (Dorota Kolak) e Tomasz (Lukasz Simlat), um casal que reside em uma pequena cidade isolada à beira-mar, desfrutando de uma vida tranquila e feliz. Entretanto, tudo se transforma quando Marlena acolhe o filho doente, Mikolaj (Tomasz Tyndyk), em sua casa. Com a chegada de Mikolaj, o casal se vê confrontado com questões do passado, reavaliando tudo o que pensavam saber ou sentir um pelo outro. 

O filme carrega grande parte de sua força na figura de Marlena, que frequentemente ocupa o centro do quadro, reforçando sua importância na narrativa, cuja estrutura é composta por pequenos planos sequência muito bem orquestrados. Nesses planos, quando estáticos, foca-se nas reações emocionais mais profundas, dado que a intensidade da dor muitas vezes resulta em expressões corporais tão agudas que dispensam qualquer enfoque nas feições, mesmo quando os personagens tentam conter essas emoções. Já quando a câmera está em movimento, capta-se uma melancolia subjacente, acompanhada de uma sensação de claustrofobia gerada pelos contornos da casa e em planos feitos por detrás da nuca da protagonista. 

A narrativa se desenrola em ondas, com pontos de virada que bruscamente alteram a temperatura dos arcos, mas predominam os méritos, como o início econômico nos diálogos, que propositadamente ocultam as razões por trás das circunstâncias posteriormente desenvolvidas. Somente ao acompanharmos a jornada de Marlena por um tempo, somos gradualmente expostos a um conteúdo mais verbal, embora os diálogos não sejam didáticos. Para captar todas as nuances é necessário atenção aos detalhes, e, sem dúvida, o filme é fácil do ponto de vista emocional. Essa combinação pode provocar uma ampla gama de reações, desde repulsa até revolta, porém, como mencionado anteriormente, grande parte do cinema aqui apresentado encontra nesse objetivo sua razão de existir. 






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