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'Aquaman 2: O Reino Perdido' : James Wan encerra uma era conturbada da DC com estilo e personalidade | 2023

NOTA 8.0

Às vezes, não desistir é a coisa mais heroica que se pode fazer

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


O ano de 2023 impôs luz a uma saturação no cinema de super-heróis que há tempos vinha sendo discutida. Tirando os excelentes ‘Guardiões da Galáxia - Volume 3’ e ‘Homem-Aranha Através do Aranhaverso’, a outra meia dúzia de títulos foi decepcionante em crítica e bilheteria. Filmes genéricos e frustrantes como ‘Besouro Azul’ e ‘Flash’ reforçaram a crença do fim da era desse tipo de filmes crescer consideravelmente, levando os estúdios a correrem contra o tempo em busca de uma reinvenção que atraia o público de volta ao gênero. No caso da DC, muito do insucesso das produções de seu catálogo cai na conta do anúncio do fim do atual universo compartilhado, tornando assim irrelevantes os quatro títulos lançados em 2023. ‘Aquaman 2: O Reino Perdido’ é o último da safra do DCEU, antes da estreia do DCU que chegará em 2025 com ‘Superman: Legacy’, e, por isso, o prenúncio da descontinuidade dos filmes atuais acaba desmotivando o público de seguir acompanhando a saga já falida. Contudo, apesar de sofrer com a má reputação dos longas anteriores e ser o último suspiro de uma besta-fera dada como morta, o filme ainda consegue imprimir alguma dignidade ao personagem e cumpre seu papel conclusivo com graça e refinamento estético.

A proposta do diretor James Wan aqui é contar a história de Arthur sem o compromisso de ser parte de um universo compartilhado. Em 2018 já havia esse caráter mais “individual” em ‘Aquaman’, e isso torna mais cabível argumentar que esse traço não seja só uma consequência do fim do universo ao qual este novo filme pertence, mas sim uma conclusão planejada pelo realizador - que obviamente passou por algumas mudanças e adaptações devido ao novo contexto de não-futuro. Na verdade, conhecendo a assinatura de Wan e o domínio que ele exerce sobre as próprias obras, fica difícil acreditar que o estúdio tenha interferido tanto na base criativa do projeto; claro, as escolhas na esfera maior interferem na pressão da esfera menor, e o filme teve que se tornar o ponto final quando, na verdade, sua estrutura foi inicialmente planejada como uma mid-season. Por isso parece, de um jeito estranho, que faltou coragem para tomar algumas medidas drásticas como as vistas nos quadrinhos, que catapultam a jornada de Arthur para um outro nível; e a ausência desses elementos chocantes se dá para não deixar um gosto tão amargo na boca e uma atmosfera de inconclusão ainda maior ao já triste desfecho do universo iniciado dez anos atrás. Preferiu-se manter uma aura otimista e pacífica, mesmo embora muitos questionem o aparente pastiche que se sucedeu aqui.

A trama mescla elementos de ação, drama, comédia e aventura verniana para a construção da narrativa, mas seu trunfo está nas dinâmicas familiares - que são o que ‘Velozes e Furiosos’ fingem ser enquanto só se autoafirma uma saga sobre família. Uma surpresa aqui é o tempo de tela de Amber Heard após as polêmicas pessoais que dominaram a mídia em 2022, sobrepondo a “participação especial” que foi vendida nos últimos meses (e nos materiais promocionais, que não por Mera coincidência decidiram mantê-la escondida) e tornando sua personagem um deus ex machina sempre que pode. Sua presença é pontual, assim como as de Nicole Kidman e Temuera Morrison, pois o coração do filme e o fio condutor dessa vez residem na dinâmica de amor é ódio entre Jason Momoa e Patrick Wilson, com seus Aquaman e Olm, que implica um significado mais íntimo ao filme com traços de naturalidade fraterna perante o tempo de intervalo entre este e o antecessor. Com bons efeitos, 3D decente e o espírito de quem nasceu pra ser selvagem, o filme despede o DCEU com uma personalidade própria de “filme do Aquaman”, mas com uma qualidade maior no seu miolo do que se especulava nos bastidores.

Com um encaminhamento típico de histórias em quadrinhos, com um vilão todo arquétipo e alguns personagens estereotipados, não há espaço para grandes surpresas aqui. Contudo, o acréscimo que o filme dá à trajetória do Arthur Curry de Jason Momoa é divertido e muito bem-vindo. Momoa estava nitidamente se divertindo, e a alegria dele é contagiante graças ao grande carisma que ele consegue transmitir. Não é um filme para Oscar, é só um entretenimento casual desprovido de qualquer interesse em ser levado à sério, e gosto muito de dizer que não é só de filme-arte que o cinema vive. ‘Aquaman 2: O Reino Perdido’ é um escapismo agradável para o fim de ano e resgata muito da alma do primeiro filme. O resultado final é legal e me divertiu bastante, e sobre sua qualidade há quem concorde e há quem discorde, mas é da pluralidade de visões que o mundo funciona - e a mensagem final do filme, verbalizada quase que como essas palavras, é exatamente essa. Adeus, DCEU, foi bom ter te conhecido.






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