PiTacO do PapO! 'O Cidadão Ilustre' - 2017
NOTA 9.0
Por Rogério Machado
Ficção e realidade. Qual a diferença entre esses dois estados? Para Daniel Mantovani ,o protagonista de 'O Cidadão Ilustre', divertida história que acaba de chegar aos cinemas brasileiros, isso é irrelevante se ambas possuem verdade. A diferença básica entre elas é a interpretação.
No longa, coprodução entre Argentina e Espanha, Mantovani (Oscar Martínez) é um escritor argentino que vive na Europa há quase quatro décadas, mundialmente respeitado por ter recebido o Prêmio Nobel de Literatura. Seus livros se caracterizam por retratar com olhar crítico a vida provinciana em Salas, a pequena cidade da Argentina onde nasceu – e a qual não visitou desde que partiu com planos de tornar-se escritor. Um dia, entre as inúmeras correspondências recebidas diariamente pelo autor radicado em Barcelona, chega uma carta do prefeito de Salas convidando-o a receber o máximo reconhecimento da localidade: a medalha de cidadão ilustre. Surpreendentemente, e apesar de suas importantes obrigações e compromissos, Daniel decide aceitar a proposta e passar alguns dias em sua terra natal. A viagem reservará várias surpresas: será o retorno triunfal ao vilarejo que viu o escritor nascer, uma volta ao passado em que reencontrará velhos amigos, amores e paisagens da juventude – mas também um perturbador e mesmo perigoso confronto do protagonista com fantasmas, ressentimentos e fraquezas pessoais.
A direção de Gastón Duprat, cujo roteiro também é de sua autoria, se apropria da narrativa com diversas facetas que bebem em fontes variadas. Mas é latente o tom agridoce, o humor, seja em tom de crítica e mais contido, e por algumas vezes até escrachado, dão movimento e formas repletas de contraste (ou não) na trama. A acidez nos traços da personalidade difícil de Mantovani, mostra a que veio logo de cara, com um primeiro ato impagável e que não poupa papas na língua. O filme parece ter sido feito para Martinez, principalmente quando o texto pede expressões mais sarcásticas, e são esses os melhores momentos dessa superlativa interpretação.
Conhecendo logo de pronto o temperamento e como o tal ilustre cidadão se porta diante de bajulações e honras, tudo que vem a seguir, as homenagens que ele recebe em sua pequena cidade natal se tornam verdadeiros deleites para o espectador. O tom caricato toma conta até da cenas sem tantas nuances propriamente engraçadas. Mas se engana quem acha que 'O Cidadão Ilustre' é uma comédia boba e 'sem recados': a claustrofobia e os desconfortos que Daniel sente também podem ser sentidos pelo espectador, ainda que a câmera se comporte de forma mais documental.
E para finalizar: todas essas experiências naquela cidade que ele deixou há tanto tempo, toda a rejeição e perseguição seriam mais uma de suas obras ficcionais ? Ou seriam realidade? Uma verdade ou um produto de sua imaginação? Teria essa viagem realmente acontecido? Assim como sua cidade natal sempre foi o pano de fundo de todos seus romances e livros e contos do gênero de mistério e crime, podemos questionar a veracidade de tudo o que fora impresso por Duprat e Cohn em quase duas horas de projeção.
Para 'O Cidadão Ilustre', genial é pouco.
Super Vale Ver !
Por Rogério Machado
Ficção e realidade. Qual a diferença entre esses dois estados? Para Daniel Mantovani ,o protagonista de 'O Cidadão Ilustre', divertida história que acaba de chegar aos cinemas brasileiros, isso é irrelevante se ambas possuem verdade. A diferença básica entre elas é a interpretação.
No longa, coprodução entre Argentina e Espanha, Mantovani (Oscar Martínez) é um escritor argentino que vive na Europa há quase quatro décadas, mundialmente respeitado por ter recebido o Prêmio Nobel de Literatura. Seus livros se caracterizam por retratar com olhar crítico a vida provinciana em Salas, a pequena cidade da Argentina onde nasceu – e a qual não visitou desde que partiu com planos de tornar-se escritor. Um dia, entre as inúmeras correspondências recebidas diariamente pelo autor radicado em Barcelona, chega uma carta do prefeito de Salas convidando-o a receber o máximo reconhecimento da localidade: a medalha de cidadão ilustre. Surpreendentemente, e apesar de suas importantes obrigações e compromissos, Daniel decide aceitar a proposta e passar alguns dias em sua terra natal. A viagem reservará várias surpresas: será o retorno triunfal ao vilarejo que viu o escritor nascer, uma volta ao passado em que reencontrará velhos amigos, amores e paisagens da juventude – mas também um perturbador e mesmo perigoso confronto do protagonista com fantasmas, ressentimentos e fraquezas pessoais.
A direção de Gastón Duprat, cujo roteiro também é de sua autoria, se apropria da narrativa com diversas facetas que bebem em fontes variadas. Mas é latente o tom agridoce, o humor, seja em tom de crítica e mais contido, e por algumas vezes até escrachado, dão movimento e formas repletas de contraste (ou não) na trama. A acidez nos traços da personalidade difícil de Mantovani, mostra a que veio logo de cara, com um primeiro ato impagável e que não poupa papas na língua. O filme parece ter sido feito para Martinez, principalmente quando o texto pede expressões mais sarcásticas, e são esses os melhores momentos dessa superlativa interpretação.
Conhecendo logo de pronto o temperamento e como o tal ilustre cidadão se porta diante de bajulações e honras, tudo que vem a seguir, as homenagens que ele recebe em sua pequena cidade natal se tornam verdadeiros deleites para o espectador. O tom caricato toma conta até da cenas sem tantas nuances propriamente engraçadas. Mas se engana quem acha que 'O Cidadão Ilustre' é uma comédia boba e 'sem recados': a claustrofobia e os desconfortos que Daniel sente também podem ser sentidos pelo espectador, ainda que a câmera se comporte de forma mais documental.
E para finalizar: todas essas experiências naquela cidade que ele deixou há tanto tempo, toda a rejeição e perseguição seriam mais uma de suas obras ficcionais ? Ou seriam realidade? Uma verdade ou um produto de sua imaginação? Teria essa viagem realmente acontecido? Assim como sua cidade natal sempre foi o pano de fundo de todos seus romances e livros e contos do gênero de mistério e crime, podemos questionar a veracidade de tudo o que fora impresso por Duprat e Cohn em quase duas horas de projeção.
Para 'O Cidadão Ilustre', genial é pouco.
Super Vale Ver !
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