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Crítica Escracho ! 'Internet : O Filme' - 2017

Por Bruno Santos



Os dois primeiros dos muitos erros de 'Internet – O Filme' estão no próprio título. O “Internet”, que não faz o menor sentido já que ele é focado apenas em webcelebridades fictícias. Trata-se, portanto, de uma sinédoque que se apropria de um nome muito mais conhecido e abrangente (será que o YouTube não permitiu o uso de seu nome e marca?). O segundo é que “O Filme” também não condiz com o material final, já que o que é apresentado não é bem um filme, mas um apunhado de oito esquetes escrotas, sem qualquer linha narrativa. 



Uma grande convenção de youtubers reúne as maiores celebridades do meio, além de pessoas comuns e aspirantes à fama que farão de tudo para galgar os degraus do reconhecimento. A reunião de diferentes esquetes que compõem 'Internet – O Filme' soa, desde o início, como um explícito e tosco merchandising de canais do YouTube e webcelebridades. Não há qualquer problema nisso, desde que a propaganda seja trabalhada com o mínimo de qualidade narrativa, como é o caso dos ótimos 'Uma Aventura LEGO' e, mais recentemente, 'LEGO Batman: O Filme'. Mas não é o caso - 'Internet', reúne oito esquetes narrados concomitantemente. Cada um deles foi desenvolvido a fim de englobar o máximo de referências ao mundo virtual abordado pelos personagens. Portanto, os próprios esquetes não possuem droga de valor algum.


'Internet – O Filme' não busca expandir seu público, mas apenas 'alimentar' os fãs já existentes. Assim, a maior parte da obra dialoga apenas com aqueles que conhecem e acompanham esse microcosmos de araque de webcelebridades. A grande parte das piadas é uma referência a um determinado canal, personalidade ou jargão, o que acaba por isolar os desconhecedores. O humor do longa é vasto dentro do pequeno espaço a qual se limita. Youtubers vangloriando e xingando outros youtubers; adolescentes buscando a fama a qualquer custo; piadas sobre beijos, sexo, gordos, gays, peido; gatos e cachorros; nomes diferentes e de duplo sentido; muitos cortes no vídeo, selfies, haters, 'Turn Down For What', palavrões, arrogância etc. O problema, porém, reside mais na qualidade do que na quantidade. Uma parte significativa dessas “piadas” repete a má discussão feita nas nefastas áreas de comentários do YouTube e vários outros sites e redes sociais: o preconceito. Um dos críticos do politicamente correto, Rafinha Bastos - roteirista e “ator” do filme - (interpreta uma versão de si mesmo, o Cesinha Passos), não deseja contribuir à exaustiva – porém necessária – discussão sobre os limites e formas de humor. Permeado de momentos ofensivos, os esquetes apresentados tentam anular a discriminação proferida através de reviravoltas nas situações em questão. Porém apenas corroboram ainda mais com a visão tacanha que um público geral possui sobre determinados temas e formas de comédia. O público que consome os canais de YouTube dos protagonistas da obra provavelmente não verão qualquer problema com as ofensas a grupos como os obesos, homossexuais e nerds. A resposta para qualquer comentário acerca dos insultos deve seguir a cartilha falaciosa do “é só um piada”, justificativa que 'Internet' assimila e se aproveita para proferir comentários nocivos e desnecessários. 

Outros problemas residem em alguns personagens. Quase todos são completamente descartáveis. Porém, Cesinha Passos – que tenta ser uma paródia de Rafinha – é o pior caso. O personagem se chafurda numa autopiedade insultante. Ele não passa de um perseguido pela sua fama, sem qualquer responsabilidade pelo que faz. Martiriza-se até mesmo quando tenta ser alguém melhor. A piada de Bastos não possui a ironia almejada, além de dar uma amostra de como Bastos percebe a si mesmo no contexto da opinião alheia online. Há também uma incômoda mensagem de impunidade onde a busca pela fama permite qualquer ação por parte de alguns personagens. Porém, conseguindo ou não atingir o estrelato, cada ação passa impunemente diante os olhos do público. Tudo vale em nome da fama e não há qualquer consequência.


Os aspectos técnicos de 'Internet – O Filme' ficam em segundo plano diante o objetivo da obra. A direção de Filippo Capuzzi Lapietra cria um bom momento cinematográfico, que é um plano sequência da abertura, simples, porém bem realizado, que situa o espectador com objetividade. Mas é só isso ! Após esse momento, o que passa na tela são, basicamente, vários vídeos de YouTube. E quanto às atuações, não há muito o que dizer, pois não existem atores ali. Todos são versões de si mesmo, fazendo o que fazem diariamente. Logo, a qualidade do trabalho está diretamente relacionada ao tipo de material que produzem em seus próprios canais. Mas, diante disso tudo, a única pergunta que realmente importa aqui é: afinal, é engraçado ou não? Bem, não há uma resposta correta, já que temos em mãos um trabalho unicamente direcionado para um público bastante específico. Logo, a qualidade de 'Internet – O Filme' se limita à questão da subjetividade da comédia. A resposta, então, é: isso é relativo. Depende unicamente do gosto do espectador e apreço pelas webcelebridades presentes. 

Para concluir, 'Internet – O Filme' não é um filme, mas uma série de tranqueiras unicamente direcionadas para quem acompanha os youtubers que a produção tanto promove. Sem uma narrativa definida, as piadas se acumulam aos montes, oriundas de situações irrelevantes, apresentando citações, easter eggs, cameos e homenagens para os fãs, enquanto alternam frivolidades de humor subjetivo e situações e comentários nocivos, desnecessários e que ignoram toda a discussão atual realizada na internet e fora dela. O resultado final parece mais interessado em criar um vídeo para seguir o algoritmo do YouTube, e ainda apenas gerar monetização.

Diferente das críticas no blog, na 'Sessão Escracho' não é de costume deixar uma nota, mas caso você esteja pensando que nota eu daria para o filme, seria tipo um 4, ou menos quem sabe, e isso só pra ser bonzinho com esse traste de produção. Vergonha alheia define! 







´Papo de Cinemateca - Porque Cinema e Diversão é com a Gente Mesmo.'











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