Adsense Cabeçalho

Dica do Papo! 'Tudo Sobre Minha Mãe' - 1998

Antes dos créditos finais, Pedro Almodóvar dedica 'Tudo Sobre Minha Mãe' às atrizes Bette Davis, Gena Rowlands e Romy Schneider, a todas as atrizes que interpretaram atrizes, a todas as mulheres que atuam ... aos homens que atuam e se transformam em mulheres. À todas as pessoas que querem ser mães, e por fim,  ele dedica o filme à sua mãe.



Nota-se na obra do ousado e controverso diretor espanhol um fascínio pelo universo feminino e nessa película em especial, pela maternidade.


Na história, conheceremos Esteban (Eloy Azorín), que no dia do seu aniversário ganha de presente da mãe, Manuela (Cecilia Roth), um ingresso para a nova montagem da peça "Um bonde chamado desejo", estrelada por Huma Rojo (Marisa Paredes). Após o espetáculo, ao tentar pegar um autógrafo de Huma, Esteban é atropelado e morre. Manuela resolve então ir até o pai do menino, que vive em Barcelona, para dar a notícia. No caminho, ela encontra o travesti Agrado (Antonia San Juan), a freira Rosa (Penélope Cruz) e a própria Huma Rojo. Histórias que se cruzarão sejam por tristes ou felizes coincidências e em comum entre todas elas, as desventuras de viver a maternidade. 

'Tudo Sobre Minha Mãe' é um filme que exala intensidade. A estética por si só já é intensa: cenários coloridos e vibrantes e suas mulheres de vermelho. O filme aborda suas trajetórias e essas também são provocativas:  A protagonista é Manuela, uma mãe solteira com ótima relação com o filho, apaixonado pela escrita. Logo após o espetáculo, mãe e filho ficaram horas na chuva esperando a saída da diva Humo Hojo para o rapaz conquistar o tão sonhado autógrafo, mas
Huma não está interessada em receber fãs, em uma clara referência à personagem Margot de 'A Malvada'(All About Eve, referenciado também no título do filme).


Todas as mulheres tem histórias fortes e momentos interessantes. Todas, em maior ou menor grau, estão atuando, fingindo alguma parte de suas vidas. Da irmã Rosa que mente para os pais para ocultar a gravidez, passando por Manuela, que lida com múltiplos papéis ao longo da película, à Agrado, que, como diria Judith Butler, faz do gênero uma performance.  

Quando Manuela passa a frequentar os camarins de Huma, cheguei a pensar que, como Eve no filme homenageado, ela se aproveitaria de suas fragilidades para de alguma forma se beneficiar ou se vingar. Almodóvar optou por não compor paralelo entre as duas obras de forma tão óbvia. Já a relação com 'Um Bonde Chamado Desejo', fica clara quando Manuela menciona que a peça é parte de sua vida. Na história, Stella deixa o marido e vai embora com seu bebê, como ela havia feito dezoito anos antes. Alem disso, a icônica fala ” Seja você quem for, eu sempre dependi da bondade de estranhos” se reflete na vida de todas as personagens, que terminam por formar uma malha de apoio mútuo, mesmo sem se conhecerem verdadeiramente.



Hoje com toda essa discussão sobre identidade de gênero, 'Tudo Sobre Minha Mãe' se torna inconscientemente (ou será que Almodóvar sabia desde aquela época?) um bom representante nessa militância. Não creio que o filme tenha mesmo essa intenção de ser político, mas diante de todas as questões que levanta, ele acaba sim se encaixando nesse cinema crítico e um tanto quanto afrontoso que o mestre do cinema espanhol sempre fez. 



'Papo de Cinemateca - Porque cinema e diversão é com a Gente Mesmo.'

Nenhum comentário