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PiTacO do PapO - 'Mãe' (2017)

NOTA 8.5


Por Rogério Machado


O cultuado Darren Aronofsky é um dos poucos diretores que conseguem unir o chamado cinema de arte com aquele tipo de cinema com tendências mais comerciais. 'Mãe', seu mais novo trabalho que acaba de chegar às salas, é fiel  à linha que o diretor tem seguido em sua carreira desde sempre, mas ainda sim, apesar de toda alegoria,  é o lado menos complexo do visionário e controverso cineasta. 

No longa, um jovem casal vive em um imenso casarão no campo. Enquanto a jovem esposa, a Mãe do título, (Jennifer Lawrence) passa os dias restaurando o lugar, afetado por um incêndio no passado, o marido, que é mais velho (Javier Bardem) tenta desesperadamente recuperar a inspiração para voltar a escrever os poemas que o tornaram famoso. Os dias pacíficos se transformam com a chegada de uma série de visitantes, entre eles Michelle Pfeiffer e Ed Harris, que se impõem à rotina do casal e escondem suas verdadeiras intenções.

'Mãe', mais do que tudo já vimos da obra de Aronofsky, é um cinema de interpretações, onde a imaginação é quem manda, lógico que alguns símbolos e referências - bíblicas por exemplo- estão às claras, mas fora isso, a história pode ser destrinchada de diversas formas: à minha maneira, percebi 'Mãe' como o grande conflito que sempre existirá entre os sexos. A mulher se encarregando dos afazeres da casa, da organização dos espaços, principalmente quando a casa é invadida por estranhos, a preocupação estava nas paredes recém pintadas ou na pia que não estava chumbada caso um desavisado se apoiasse sobre ela. Já o marido, que na sinopse é nomeado apenas de him (ele) , é aquele que deixa a mulher para segundo plano, que gosta de ser o centro das atenções ao aproveitar todos os holofotes em uma retomada de carreira....e se apoiando na esposa para tal façanha. 

O diálogo entre o casal não flui, os interesses e motivações convergem para direções diferentes até que o clímax chega junto com a explosão de sentimentos reprimidos e a materialização da maternidade que na verdade é o coração da trama. Paradoxalmente, o coração será apresentado não somente de maneira ilustrada e metafórica (a casa em que o casal vive por exemplo), como também de modo literal - aqui, apesar das artes de divulgação deixarem transparecer, prefiro deixar em off o exemplo para não correr o risco de entregar detalhes vigorosos do desfecho chocante e surpreendente do longa. 

Mesmo com momentos tensos, 'Mãe' não é propriamente um suspense, o filme de Aronofsky se configura muito mais como um drama psicológico que vai fundo ao analisar de forma livre o comportamento humano nas mais diversas posições dentro desse círculo que chamamos de sociedade.  

No que diz respeito às performances, J. Law não decepciona: a atriz desempenha uma brilhante atuação com tons comedidos da personagem recatada a entregas dramáticas quando tudo começa desmoronar. A câmera passeia bem de perto pelo seu rosto e corpo, conduzindo-nos durante toda projeção. Assim, pouco a pouco, a casa se torna um espaço de agonia. Já Bardem, desempenha ferozmente seu papel de homem sedutor e dominador. Ele é o poder sobre todas as coisas e, principalmente, sua esposa. A benevolência de suas ações durante o filme provoca aflição, sua maior necessidade é ser amado acima de tudo. Vocês já ouviram isso antes, não? 
Sua presença, no entanto, não é tão marcante quanto a de Michelle Pfeiffer, mesmo em papel secundário. Miss Pfeiffer ainda que com poucas sequências é um complemento de luxo dentro da trama. 

'Mãe' não é exatamente o melhor que o diretor entregou até hoje, mas ainda sim é um bom exemplo de uma narrativa diferenciada e elegante dentro do gênero. Se é que Aronofsky se encaixe em algum. 


Vale Ver ! 




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