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Matéria Especial - Cinema e História, Uma Parceria que dá Certo '...E o Vento Levou' (1939)

Por Beto Alves  @EfeitoBorboletaNaWeb


Uma atitude do Teatro Orfeu, de Memphis, Tennessee, EUA, causou exclamação nos amantes do cinema, espalhados pelo mundo. Há 34 anos o Teatro Orfeu exibe o clássico americano “...E o vento levou” em sua programação, mas a exibição do dia 11 de agosto, deste ano, foi a última. Um choque geral.



Em comunicado, Brett Batterson, dono do espaço, informou que o filme não será mais exibido, após críticas de que ele seria “racialmente insensível”. O local é acostumado a exibir filmes antigos, mas o épico, passado na Guerra Civil, despertou protestos pelo retrato estereotipado e servil da população negra. Vale lembrar que 64% dos habitantes da cidade são negros.

O clássico de 1939 é uma adaptação do livro homônimo escrito três anos antes por Margaret Mitchell. Ele conta a história de Scarlett O’Hara, filha de um fazendeiro sulista durante a Guerra Civil Americana. O filme foi indicado a 13 categorias do Oscar em 1940 e venceu 10.

A crítica foi bastante dura em alguns aspectos do filme. Na verdade o clássico faz um desenho ameno da escravidão e estabelece uma visão um tanto deturpada da relação e na comparação entre os “glamurosos” e pedantes fazendeiros sulistas e os "indesejáveis" yankes do Norte.


Hattie McDaniel, precursora negra no Oscar 
Alguns críticos afirmaram que a questão da escravidão deixou de ser discutida e apresentou personagens escravos cordatos e reverentes aos brancos. Os principais personagens negros realmente têm esse matiz, mas era comum escravos domésticos agirem dessa forma. Quanto à postura pedante dos sulistas era um fato, tanto que realmente acreditavam poder vencer uma guerra totalmente desfavorável a eles. Em muitos momentos, o personagem Reth Butler, faz essa crítica. Cabe lembrar que Hattie McDaniel, que viveu a personagem Mammy, foi a primeira artista afro-americana a conquistar o Oscar de melhor atriz coadjuvante.

Mesmo com toda essa discussão, 'E o vento levou' é um material histórico e até didático, de grande valor. Ele aborda não apenas a guerra civil em si, mas estabelece um contexto riquíssimo sobre a origem da colonização norte-americana, seu cotidiano e seu impulso imperialista.

A história da formação e desenvolvimento da nação norte-americana é bastante peculiar, em comparação com o restante da América. Ela apresenta momentos, em que os olhares se voltam para si mesma e em outros, os olhos astutos da águia voltam-se para fora, numa visão imperialista.



No processo de colonização inglesa, no século XVII, esse olhar foi totalmente horizontalizado. A futura nação formou-se a partir de 13 distintas colônias, no litoral do Atlântico Norte. No Sul, formou-se uma colonização no modelo de exploração, em sistema de Plantation, com produção agrícola monocultural, voltada para o mercado externo e trabalho escravo africano. Já no Centro e Norte, conhecidos como Nova Inglaterra, o modelo de colonização baseou-se no povoamento, com o trabalho industrial voltado para o mercado interno.

O desenvolvimento autônomo das 13 colônias foi abalado, gerando a independência. As causas desse abalo se sustentavam em duas estruturas. Na autonomia e progresso das colônias e na posterior tentativa de controle e tributação pela metrópole.

Com a independência, veio a necessidade de expandir o território em direção ao Oeste dos já, 13 estados, em direção ao Pacífico, no início do século XIX. O olhar volta a ser horizontalizado, visto que durante o processo de independência, a verticalidade e o olhar para o interior foram fundamentais.

Voltados totalmente para questões externas, pretendiam a expansão através de acordos pacíficos, compras ou guerras. A “Marcha para o Oeste” foi realizada por aventureiros americanos e acelerada por imigrantes europeus, que chegavam aos EUA, em busca de enriquecimento rápido, outro e atraídos pela distribuição gratuita de terras. As guerras com os índios que resistiram à ocupação de suas terras foram sangrentas.

Decorrente da expansão territorial, as diferenças entre os Estados do Sul e do Norte se agravaram. O Sul defendia o livre-comércio, era favorável à escravidão. Os estados do Norte defendiam as tarifas protecionistas, eram contra a escravidão, já que com a abolição, os negros aumentariam o mercado consumidor.

Essas diferenças levaram os norte-americanos a uma guerra civil, a Guerra de Secessão entre Sul e Norte. Os sulistas pretendiam se separar do Norte. As eleições presidenciais deram vitória a Abraham Lincoln, apoiador do Norte. A Carolina do Sul declarou-se dissoluta da União, apoiada por mais 10 Estados, formando os Estados Confederados da América. Em 1860 a guerra civil inicia. As vantagens nortistas eram grandes. A abolição da escravidão foi promulgada. Essa atitude do governo, fez com que o Sul enfraquecesse, perdendo o apoio dos escravos.

A batalha de Gettysburg foi a última tentativa sulista, mas em 1865 a guerra chega ao fim, com a vitória do Norte. O presidente Lincoln foi assassinado, o Sul arrasado e reintegrado à União, sofrendo interferência política e econômica do Norte. Com a vitória do Norte industrial, aumento do capital e surgimento do interesse pelo mercado externo, surgiu o interesse dos norte-americanos em lançar-se ao Imperialismo, voltando-se para fora, caracterizando-se dessa forma, a política dos EUA daí por diante.

O Tennessee é um dos 50 estados dos Estados Unidos, localizado na região sudeste do país. A economia do Tennessee está baseada primariamente na indústria de manufatura, na prestação de serviços financeiros e na agricultura. Entre outros Estados mais ao Sul, onde a agricultura é fonte principal da economia, a intolerância racial é muito forte, trazendo à tona as heranças coloniais, entre elas a escravidão.

Embora muitos negros tenham ascendido financeiramente, socialmente ainda são discriminados. O presidente Obama conseguiu quebrar boa parte dessa intolerância, mas Donald Trump não tem feito muita questão de esconder seu pensamento contrário, desfazendo muitas conquistas sociais implementadas pelo governo anterior. Cabe agora o desafio, assistir novamente o clássico e identificar nele as informações apontadas por esse texto.

A conclusão é uma só: o clássico é um documento histórico inegável.
Parabéns a Margaret Mitchell.



'Papo de Cinemateca - Muito Cinema pra Todo Mundo' 


DIREÇÃO
Victor Fleming

EQUIPE TÉCNICA 
Roteiro: Sidney Howard
Produção:David O. Selznick
Design Produção: William Cameron Menzies
Música Original:Max Steiner
Fotografia:Ernest Haller, Ray Rennahan
Edição: James E. Newcom, Hal C. Kern
Estúdio:Metro-Goldwyn-Mayer
Distribuição: Metro-Goldwyn-Mayer

ELENCO
Vivien Leigh , Clark Gable , Olivia de Havilland , Thomas Mitchell , Leslie Howard , Barbara O'Neil , Evelyn Keyes, Alicia Rhett, Ann Rutherford, Butterfly McQueen, Cammie King Conlon, Carroll Nye, Cliff Edwards, Eddie "Rochester" Anderson, Eric Linden

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