PiTacO do PapO - 'Blade Runner 2049' (2017) Crítica 2
NOTA 10
Por Karina Massud @cinemassud
“Blade Runner: O Caçador de Andróides” (1982, direção de Ridley Scott) é um clássico cultuadíssimo que deu o ponta pé no estilo de filmes de ficção noir em futuros distópicos que fazem o espectador emergir num ambiente desolador. Era então compreensível o receio dos fãs por uma continuação, pois as chances de dar errado eram gigantescas. Mas eis que o tarimbado diretor Denis Villeneuve superou (e muito) todas as expectativas e nos brindou com um filmaço.
Estamos em 2049, e depois do blecaute causado pelos replicantes, todos os dados digitais do mundo foram apagados e a fabricação dos androides da fábrica Tyrell foi proibida. Até que o magnata Niander Wallace ( papel originalmente escrito para David Bowie e feito por Jared Leto) resolveu o problema da fome mundial e reiniciou a fabricação dos replicantes, que dessa vez são verdadeiros escravos dos humanos, ainda com memórias implantadas e discriminados por todos (são chamados de “pele falsa”).
Ryan Gosling está formidável como o agente K, replicante que “aposenta” sua própria espécie, ele não tem (ou não demonstra) emoções e mostra-se resignado com sua posição até quando, numa investigação que é o fio condutor da trama, ele refaz a trajetória dos replicantes e começa a questionar sua própria existência. Ele tem uma namorada virtual, Joi ( Ana de Armas, que está ótima e é a cor do filme), que apesar de ser um holograma, nos comove e nos faz acreditar que existe amor e companheirismo entre eles.
K chega então até Rick Deckard (desaparecido durante esses 30 anos) para desvendar o grande enigma do roteiro. Harrison Ford está maravilhoso, dessa vez, Deckard está menos cínico e mais melancólico depois de tantos anos.
Denis Villeneuve (diretor dos também sensacionais “Sicario”, “Incêndios” e “A Chegada”, obras obrigatórias para qualquer amante da sétima arte) conseguiu manter o clima sombrio e angustiante que Ridley Scott imprimiu no primeiro longa elevando-o à enésima potência, sem contudo deixar de colocar seu estilo.
O ritmo do filme não é de ação louca, a narrativa é mais lenta, de momentos contemplativos e de reflexão, mas não por isso menos aflitivos. A fotografia é maravilhosa, em tons de âmbar e cinza, tudo muito lindo e triste. A trilha sonora de Hans Zimmer, ao contrário da trilha mais zen e sexy de Vangelis, é atordoante e causa um impacto ainda maior na atmosfera sombria do que restou do planeta: lixões de gente e de escombros. A chuva ácida continua a cair agora intercalada com chuva de cinzas, o mar cada vez mais alto é contido por paredões altíssimos no lugar do que um dia foi a areia das praias. Não existe mais comida real (as pessoas se alimentam de proteína de larvas), nem árvores ou animais.
A trama traz algumas respostas para perguntas deixadas anteriormente, mas sobretudo aprofunda questionamentos que rondam não só os replicantes mas toda a humanidade. Afinal, o que nos faz humanos?! Nossas memórias? Nossa alma? Ou nossa mortalidade? A cena final é de uma delicadeza e emoção absurdos, e coroa esse filme magistral que já nasceu um clássico.
Super Vale Ver !
DIREÇÃO
Denis Villeneuve
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Hampton Fancher
Produção: Andrew A. Kosove, Broderick Johnson, Bud Yorkin, Ridley Scott
Fotografia: Roger Deakins
Trilha Sonora: Benjamin Wallfisch, Hans Zimmer
Estúdio: Warner Bros.
Montador: Joe Walker
Distribuidora: Sony Pictures
ELENCO
Ana de Armas, Carla Juri, Dave Bautista, David Dastmalchian, Harrison Ford, Hiam Abbass, Jared Leto, Lennie James, Mackenzie Davis, Robin Wright, Ryan Gosling, Sylvia Hoeks, Wood Harris
Por Karina Massud @cinemassud
“Blade Runner: O Caçador de Andróides” (1982, direção de Ridley Scott) é um clássico cultuadíssimo que deu o ponta pé no estilo de filmes de ficção noir em futuros distópicos que fazem o espectador emergir num ambiente desolador. Era então compreensível o receio dos fãs por uma continuação, pois as chances de dar errado eram gigantescas. Mas eis que o tarimbado diretor Denis Villeneuve superou (e muito) todas as expectativas e nos brindou com um filmaço.
Estamos em 2049, e depois do blecaute causado pelos replicantes, todos os dados digitais do mundo foram apagados e a fabricação dos androides da fábrica Tyrell foi proibida. Até que o magnata Niander Wallace ( papel originalmente escrito para David Bowie e feito por Jared Leto) resolveu o problema da fome mundial e reiniciou a fabricação dos replicantes, que dessa vez são verdadeiros escravos dos humanos, ainda com memórias implantadas e discriminados por todos (são chamados de “pele falsa”).
Ryan Gosling está formidável como o agente K, replicante que “aposenta” sua própria espécie, ele não tem (ou não demonstra) emoções e mostra-se resignado com sua posição até quando, numa investigação que é o fio condutor da trama, ele refaz a trajetória dos replicantes e começa a questionar sua própria existência. Ele tem uma namorada virtual, Joi ( Ana de Armas, que está ótima e é a cor do filme), que apesar de ser um holograma, nos comove e nos faz acreditar que existe amor e companheirismo entre eles.
K chega então até Rick Deckard (desaparecido durante esses 30 anos) para desvendar o grande enigma do roteiro. Harrison Ford está maravilhoso, dessa vez, Deckard está menos cínico e mais melancólico depois de tantos anos.
Denis Villeneuve (diretor dos também sensacionais “Sicario”, “Incêndios” e “A Chegada”, obras obrigatórias para qualquer amante da sétima arte) conseguiu manter o clima sombrio e angustiante que Ridley Scott imprimiu no primeiro longa elevando-o à enésima potência, sem contudo deixar de colocar seu estilo.
O ritmo do filme não é de ação louca, a narrativa é mais lenta, de momentos contemplativos e de reflexão, mas não por isso menos aflitivos. A fotografia é maravilhosa, em tons de âmbar e cinza, tudo muito lindo e triste. A trilha sonora de Hans Zimmer, ao contrário da trilha mais zen e sexy de Vangelis, é atordoante e causa um impacto ainda maior na atmosfera sombria do que restou do planeta: lixões de gente e de escombros. A chuva ácida continua a cair agora intercalada com chuva de cinzas, o mar cada vez mais alto é contido por paredões altíssimos no lugar do que um dia foi a areia das praias. Não existe mais comida real (as pessoas se alimentam de proteína de larvas), nem árvores ou animais.
A trama traz algumas respostas para perguntas deixadas anteriormente, mas sobretudo aprofunda questionamentos que rondam não só os replicantes mas toda a humanidade. Afinal, o que nos faz humanos?! Nossas memórias? Nossa alma? Ou nossa mortalidade? A cena final é de uma delicadeza e emoção absurdos, e coroa esse filme magistral que já nasceu um clássico.
Super Vale Ver !
DIREÇÃO
Denis Villeneuve
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Hampton Fancher
Produção: Andrew A. Kosove, Broderick Johnson, Bud Yorkin, Ridley Scott
Fotografia: Roger Deakins
Trilha Sonora: Benjamin Wallfisch, Hans Zimmer
Estúdio: Warner Bros.
Montador: Joe Walker
Distribuidora: Sony Pictures
ELENCO
Ana de Armas, Carla Juri, Dave Bautista, David Dastmalchian, Harrison Ford, Hiam Abbass, Jared Leto, Lennie James, Mackenzie Davis, Robin Wright, Ryan Gosling, Sylvia Hoeks, Wood Harris
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